Rádio a Ferro e Fogo Online

10.10.09

ENTREVISTA COM ANDRÉ BIGHINZOLI - METALMORPHOSE




1. Inicialmente gostariamos de agradecer a sua disponibilidade em nos atender e começamos nossa entrevista pedindo que nos conte como surgiu a idéia de formar o metalmorphose.
R: O grupo se formou naturalmente. Foi em 83, tínhamos entre 16 e 18 anos (e eu tinha 15). Os dois guitarristas, Celso (Suckow) e Marcelo (Ferreira), estudavam na mesma classe. O baterista, André (Declaroix), também era do mesmo colégio. Eles tiveram a ideia de formar um conjunto. Compor e tocar músicas próprias, que eles já faziam. Coisas no estilo Sabbath, Iron e Judas, com letras em português. Era um exercício legal. Daí veio o Tavinho (Godoy), que se amarrava em Gillan e era colega de clube, pra cantar. O grande lance era tocar músicas próprias, a gente sempre se amarrou nisso. Eu cheguei por último. Foi muito legal porque o grupo já tinha umas seis músicas e a gente tocava elas até a exaustão. Eu fiz uma música chamada Pena de Morte e esse ficou sendo o nome do grupo. Graças a deus mudamos pra Metalmorphose, ainda em 83. A coisa foi evoluindo muito rápido.

 
2. Como era a cena carioca no inicio dos anos 80. Me recordo de dois fatos marcantes: Em sampa em uma "festa" um headbanger carioca chamado Marco Hell esteve presente e disse que ser banger era foda, pois o pessoal mandava até pedra. Outro fato consta num livro sobre o movimento PUNK e trata de um show da Dorsal onde punks e headbangers estavam juntos. Afinal como se dava essa relação entre os headbangers e o povo e principalmente entre as chamadas tribos?

R: Cara, o nome disso é escassez. "Na falta de tu vai tu mesmo", ou seja, a tal cena METAL carioca dos anos 80 que você se refere era minúscula. Os locais onde o Metalmorphose fez show fomos nós que inventamos. A gente é que tinha que criar os espaços. Não tinha "cena" formada, não tinha a figura de nenhum "produtor". Tudo era na cara e na coragem. Para fazer jus a verdade, além do CAVERNA, não tinha um bar, teatro, casa de show... Uma vez, vi um show do Robertinho de Recife numa discoteca na Tijuca chamada Mamute (a boate fechou na própria época) e tinha o Circo Voador. Lá cheguei a ver Stress, Robertinho, até Dorsal... Mas tinha também muito Tim Maia, Orquestra Tabajara... (por sinal, isso era o que bombava).

Vamos nos transportar para os anos 80. O Rio de Janeiro era a capital cultural do país. A sede de TODAS as gravadoras era no Rio. A Rede Globo fica no Rio. Um tempo onde ainda não existia nem a concorrência da música baiana... O RPM tocava no Canecão, os Paralamas no Noites Cariocas (do Nelson Motta), antes um pouquinho, me lembro do Kid Abelha, Lobão e Barão Vermelho (com Cazuza) abrindo show do Celso Blues Boy no Circo Voador... Vi show do Herva Doce na Papagio Disco Club e da Blitz no Roxy Roller (point absoluto). Esse era o "rock" que a geral conhecia. O "Rock Brasil" nasceu aqui, com a força das gravadoras (termo pejorativo pra caralho, por sinal. Rock é rock, porra... rock "brasil" denota um downgrade implícito). O METAL era coisa do outro mundo. Nêgo só tinha ouvido falar em metal... de longe. Pro povão, era coisa caricata. Nem os discos eram lançados aqui (você deve se lembrar disso). Com algumas exceções, é lógico. Em catálogo tinham os discos de "rock pauleira" dos anos 70 (Sabbath Paranoid, os Led Zeppelin...). Poucas coisas escaparam da peneira, como Iron Maiden, Motley Crue, WASP. O Celso (Suckow) trouxe dos EUA discos de bandas que ninguém nunca tinha ouvido falar, em 1984: Metallica e Manowar. A gente fazia ao vivo "Battle Hymn" e "Seek And Destroy". Um cara que tinha que ser canonizado é o tal Roberto Medina, que inventou o Rock In Rio. Mas isso é outro papo...

Outra coisa: Quando eu conheci o Carlos Lopes, em 84, o nome dele era Carlos Punk (ouça o áudio de uma chamada da Rádio Fluminense que eu coloquei no início de Rock And Roll no Inferno, no CD MALDIÇÃO). Ele trocou pra Carlos Vândalo só no Ultimatum. Lembro que quando ele estava fazendo a capa surgiu esse lance. O Marcos Animal já tinha apelido e o Carlos ficou escolhendo um tempo pra decidir o dele e o do irmão: Vândalo e Cromagnon... De repente, além da escassez, taí a explicação de headbangers + punks.



 
3. O Metalmorphose faz parte da história do metal nacional pois foi um dos pioneiros a lançar albuns. Nos conte a experiência do ultimatum.

R: Parafraseando Bernie Taupin: Nós fomos pretensiosos, mas quem não é pretensioso aos 16 anos?? Bicho, o que foi o Ultimatum? Fazer um disco em 84 era caro (o preço de um volkswagen zero km). Uma loucura. Como a gente entrou numa de fazer um disco, sem produtor, sem gravadora, sem dinheiro pra divulgação? A gente fez foi porque tava embriagado no sucesso, porque o som da gente era novidade mesmo, era diferente mesmo. Ninguém fazia esse tipo de som por aqui. Heavy Metal. Além do Stress, eu não conhecia nenhum disco como o nosso por aqui. Agora, pensando a respeito, chego a conclusão que esse disco foi feito pra vocês, o sacrifício foi pra galera. Por causa da galera que ia aos shows e cantava as músicas. Era o colega de turma, que no primeiro show tava com a camisa do colégio, no segundo já apareceu com uma camisa do Iron Maiden e no terceiro já tava deixando o cabelo crescer! A gente se sentia liderando, influenciando uma galera. Isso pra nós era o máximo!!! A gente fez uma homenagem a essa galera disponibilizando essas músicas em disco. Usamos estúdios de 8 canais. A gravação tem suas limitações, mas foi corajosíssima. Não tínhamos experiência com gravação. O técnico disse que guitarra se gravava "na linha" e assim foi. Ficou mais "clean" do que a gente esperava, mas a energia tá lá. O disco saiu exatamente nos dias do Rock In Rio. Foi a maior farra. Demos mais discos do que vendemos. (agora esse disco tá a venda na galeria do rock por R$ 100). Fico feliz que isso tudo ficou na História do Heavy Metal do Brasil. Fico feliz de ter feito o que fizemos.
 
4. O que impediu o crescimento do Metalmorphose naquele contexto?

R: Nada impediu o crescimento do Metalmorphose. Vários fatores são responsáveis pela trajetória de uma banda. Muitos fatores são de foro íntimo dos próprios integrantes da banda. Gostávamos muito de tocar, de fazer músicas novas, dos shows, mas por outro lado, pela nossa idade, tínhamos dúvidas se queríamos que a música fosse a nossa atividade principal. Pode ser que tenha faltado um elemento catalisador que canalizasse nossa energia para alguma coisa de concreta. Quando a Dorsal partiu para o segundo disco, nós não queríamos mais ser underground. O Metalmorphose achava que deveria assinar com uma gravadora "major", nos achávamos bons e competentes pra isso. O tempo foi passando e ficamos por aí...
 

 


5. Tenho várias fitas com shows do Metalmorphose (Bar Opinião, por exemplo) , nos conte sobre as apresentações mais marcantes da banda nos anos 80.

R: As apresentações do Metalmorphose eram eletrizantes. Essas fitas são até sacanagem, porque não condizem com o que foi a realidade (as guitarras, que eram o que estava mais alto, sumiram na gravação porque a fita capta o áudio da mesa e lá só sai justamente o que estava mais baixo, que eles aumentavam na mesa pra compensar) A energia que rolava era foda. A galera é que era responsável.  Era uma catarse! Rolava a maior expectativa em cada show. A euforia era tanta que o André Delacroix rasgava a roupa (em vez de destruir a bateria como Keith Moon). Na semana do Rock In Rio, fizemos um show e a galera ainda estava impressionada com o solo de bateria com as mãos, do Tommy Aldrige (batera do Ozzy). Não deu outra, no meio do show, o André inventou de fazer um solo de bateria. De repente ele pára, joga as baquetas pro público, se abaixa, pega os tênis na mão e começa a solar. Literalmente espancou a bateria. Uma vez, num show no SESC da Tijuca, um cara cismou de ficar puxando a barra da minha calça. O maluco tava em transe e ficava me mostrando um crucifixo ao contrário. Era só eu me distrair que o cara se debruçava no palco e puxava a minha perna. Eu, com o baixo na mão, quase caí diversas vezes. Teve uma hora que eu me emputeci e nessa de tirar a perna dei sem querer com a bota no pau do nariz do cara. Nocaute. Fodeu, pensei, mas antes que pudesse ficar preocupado, surge o maluco como uma fênix, com a cara toda ensanguentada pra puxar o meu pé de novo... Outra vez fizemos um show no terraço do Planetário, ao ar livre. Tinha uma arquibancada e o piso era de cimento. Lembro que tinha uma galera que se jogava ali de joelhos... muita doideira.
 
6. Nesse período em que o metalmorphose esteve fora da cena, qual foi sua atividade em termos de banda?

R: Continuei tocando em bandas com trabalho autoral. Heramus (1986 a 1990); DNA (1990 a 1999) e Genoma (2000 a 2008) 
  



7. E o retorno do Metalmorphose? Como tem sido a receptividade do público?

R: Sensacional! O legal é que agora tem gente de todas as idades. Incrível. Vou te contar que ouvi cada depoimento. Gente que se emocionou. Gente que contou a história da vida! Tinha um cara no show do Blackmore, em SP (30/8) que é carioca, mas mora em Sampa há 14 anos. Eu não me lembrava dele na época, mas ele me disse que "nunca, nem no sonho mais dourado da minha vida, sonharia em ver o Metalmorphose no palco de novo. Principalmente tocando Harpya!" Está sendo um sonho pra nós também.
 
8. Gostaria que você fizesse um comentário sobre o cd Maldição. Está alcançando o impacto esperado? Posso lhe adiantar que fiquei emocionado com o cd. Heavy Metalde primeira linha, alto padrão. Já faz parte de meus preferidos. Deixe um contato para quem desejar adquirir o cd.

R: O MALDIÇÃO foi a razão da nossa volta. Era uma injustiça histórica ele nunca ter saído. Imagine o nosso orgulho em 1986. Agora estamos realizados. A idéia era apenas lançarmos os nossos dois trabalhos em CD (ULTIMATUM, que felizmente consegui lançar no formato original, com a Dorsal Atlântica e o MALDIÇÃO, que era a nosa famigerada "demo" de 86), fazer um show comemorativo e fechar a tampa, encerrar por aí. Mas, são tantas emoções... acabamos gravando ao vivo este ano (que está ex-ce-len-te, por sinal) e estamos de alma nova, tocando em frente. Quem quiser adquirir os CDs do Metalmorphose, mande email para metallirecords@gmail.com
 




9. Que paralela você traça entre o movimento atual e o movimento dos anos 80?

R: A coisa evoluiu muito. Hoje temos produtores, gravadoras, casas de show... Fico feliz em ver um cenário melhor do que o que eu conheci há 25 anos.
 
10. Recentemente vocês tocaram em Jundiaí, como você sentiu o interior de SP? Sempre organizamos shows por aqui, há possibilidade de contarmos futuramente com o Metalmorphose?

R: Fomos muito bem recebidos e nos sentimos super à vontade e identificados com a galera do interior. Estamos ávidos pra tocar aí novamente. Tem uma possível data em janeiro no Hammer, em Campinas. Por favor, levem o Metalmorphose pra tocar no interior!!! (rs)
 
11. Você já passou pelo blog A FERRO E FOGO, alguns são contra nossas postagens pois dizem que prejudicam as vendas, porém muitos nos escrevem dizendo que em nada atrapalha, pelo contrário o blog que tem um acesso muito grande é um forte instrumento de divulgação. O que pensa a respeito.

R: Sou a favor, com reserva. Acho que vocês não devem liberar tudo. Produzir um CD custa dinheiro. Lançar oficialmente, mais ainda. Não se ganha dinheiro de verdade com a venda de CDs, mas o retorno dessa grana é importante para investir nas próprias bandas. Sem grana, a banda não faz nada. Não toca em lugar nenhum, não lança mais nada...
 
12. Gostaria de uma camiseta tamanha EXG do Metalmorphose tem jeito de me enviar? (kakakakkaka)

R: Deixa comigo! (rs) 
 
13. E os planos da banda para 2010?

R: Agora, no final do ano, sai o nosso ao vivo (uau!). Vamos continuar tocando e estamos escrevendo material novo pra lançar um disco inédito em 2010.
 
14. Sobre a atual formação. Quem está atualmente na banda? Para quem não conhece, entre eles quais são da formação original.

R: Da formação original: Tavinho Godoy - vocal / André Delacroix - bateria / André Bighinzoli - baixo. O único integrante novo é Mario Sevciuc - guitarra. Mas, fizemos uma "reunion" com os guitarristas originais Celso Suckow e Marcelo Ferreira no disco ao vivo. Eles não continuaram conosco porque não têm disponibilidade de tempo.
 
15. Fica aqui nosso agradecimento a sua simpatia em nos atender e principalmente por nos proporcionar momentos de puro metal . O Blog A FERRO E FOGO tem especial admiração pelo METALMORPHOSE , lhe informo que recebi vários email elogiando o programa ATITUDE METAL ROCK que fez uma pequena homenagem ao METALMORPHOSE. Por favor, deixe suas palavras finais para nossos leitores.

R: Muito obrigado a você, Paulão, a toda galera do A FERRO E FOGO e aos leitores e fãs de todo Brasil. O Metal é a nossa alma e nosso coração. Fazemos isso porque está no nosso sangue. Um grande abraço a todos e espero que nos vejamos em breve.

Um comentário:

Danilo de Almeida disse...

Já vi a Metalmorphose ao vivo, são demais, mto bom o som da banda !
Show de bola msm !