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"O rock não vem se tornando apenas careta e politicamente correto (o que significa, na verdade, apolítico) mas comportado em demasia e, principalmente, covarde. No rock estritamente tupiniquim, e em português, então, nem se fala. A crítica é sempre adaptada para que não ultrapasse os limites da tv, do que é “aceitável”, do que não choca, não desperta sentimentos genuínos. E é por isso que há um grande significado em termos “Geração Perdida” como faixa introdutória e música símbolo deste trabalho. Sonoramente, um estrondo. Impõe-se sem a menor cerimônia e toma o ouvinte para si. Como letra, esta é a música que deveria ser hit nas rádios de todo o país. Fala o óbvio sem ser comum, cita o trivial com deboche e inteligência, aproveita o momento mas não se condiciona a ele, é aplicável a uma série de coisas. E quando Carlos Lopes canta “Eu sou da geração perdida, que ainda pensava” sua língua ferina não atinge poucos, mas muitos. É assim que “Tá Tudo Mudando... Mas Nem Sempre Pra Melhor”, terceiro CD do Mustang, começa a, lentamente, revigorar o rock brasileiro, musical e liricamente, em sentimento e atitude. Antes de tudo, é uma banda que não tem vergonha nenhuma de suas influências, que não tenta se impor como original porque sabe que isso não leva a nada. Não é parodiando o que é ruim, mas reinventando o que é bom, reunindo o que existe de melhor em cinqüenta anos de roquenrou que o Mustang consegue isso. Logo, o óbvio clima retrô que permeia o disco (principalmente na arte gráfica, passando por Beatles, Rolling Stones e Elvis Presley), além de um sem número de referências a ícones passados, no mais diversos campos possíveis, soa como um resgate e uma reflexão.
“Febem”, por exemplo, é inexplicavelmente punk, blues, hard rock e rockabilly. Os riffs são dançantes, o baixo é vigoroso e participa ativamente das composições, um trabalho fenomenal de Wlad Vieira, além de todo o swing classudo de Américo Mortágua na bateria. Carlos Lopes capricha tanto nas bases e nos riffs como nos solos, sendo admirável em todos eles, o que é raro.
A riqueza musical presente aqui impressiona. Nenhuma música é igual a outra. Nada cheira a requentado, reaproveitado, recortado e colado ou sem necessidade. Eles passeiam magistralmente por uma gama de influências que lembram John Coltrane, The Kinks, Jimi Hendrix, Grand Funk Railroad, Marvin Gaye, Jeff Beck, MC5, The Who, AC/DC e Santana até outros ícones do punk, funk e hard. Você tem que descobrir cada música por si só, apreciar o que cada uma lhe oferece. É por isso que não dá pra destacar “Janis Joplin”, “Cinco Contra Um” e “Inferno” sem falar de “Cueca e Meia” (genial), “Outro Lugar” e “Rock N Roll City”.
“Tá Tudo Mudando... Mas Nem Sempre Pra Melhor” não é um álbum fácil de ser ouvido, não pela complexidade (embora não seja nada fácil reproduzir certas partes dele), mas pela diversidade intrincada que ele exala. Desconfio até que se fosse uns dez minutos mais curto vislumbraria a perfeição. O Mustang é uma banda para de descobrir. Um grupo que não se restringe a apenas um tema ou uma sonoridade, mas explora várias facetas do rock n’ roll. Não espere a grande mídia descobri-los, faça isso por você mesmo!" - http://whiplash.net/
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