ABUTRE: SONS RETIRADOS DO SP METAL
ROCK! ROCK! ROCK ! - Por Ricardo Batalha (Roadie Crew) No cenário do Heavy Metal não é muito comum uma banda permanecer com seu line-up inalterado, já que as mudanças de músicos são constantes e ocorrem por diversos motivos. Entretanto, desde quando surgiu, em junho de 1982, até anunciar o encerramento de suas atividades em meados de 1986, a banda paulistana Abutre manteve sua formação intacta, com Adalberto Flavio Rosado Jr. (bateria), Tomas Catafay (baixo), Wagner Giudice (vocal) e Ricardo Giudice (guitarra). E esta união dos músicos começou na época de escola, quando todos perceberam que tinham em comum a paixão pelo Rock e o Heavy Metal. Ricardo havia acabado de ganhar uma guitarra de seu tio, Tomas ia comprar um baixo e, a princípio, Wagner seria o baterista. Pouco tempo depois, Tomas apresentou Adalberto aos irmãos Giudice com a idéia de formar uma banda, e ele acabou ficando com o posto, deixando Wagner livre para se dedicar aos vocais. Os quatro começam a compor músicas próprias e ensaiá-las, mesclando com alguns covers de bandas que admiravam. Desta forma, o Abutre montou seu repertório e começou a se apresentar no circuito underground de São Paulo. Como a boa receptividade dos shows, são convidados por Luiz Calanca a integrar a coletânea "SP Metal 2", na vaga que fora aberta pelo Harppia, que partiu para a gravação do EP A Ferro e Fogo. As duas faixas eternizadas pelo Abutre foram Quando o Fogo Começa a Arder e Rock Rock Rock. A seqüência de shows, aparições em programas de TV e rádio fizeram com que o Abutre voasse alto, conquistando uma considerável legião de fãs. Mesmo com o "fenômeno Rock In Rio", realizado em janeiro de 1985, não houve o apoio necessário às bandas brasileiras de som mais pesado e desta forma a chance do Abutre gravar um álbum inteiro não veio. Com isso, os músicos começaram a ter outras prioridades na vida, acabando por encerrar as atividades após um show apoteótico no festival "Metal 4", ao lado do Centúrias, Salário Mínimo e A Chave do Sol, realizado no dia 3 de maio de 1986, no ginásio da Sociedade Esportiva Palmeiras, em São Paulo (SP). Na entrevista a seguir, Ricardo Giudice e Adalberto Rosado Jr. falam mais sobre a carreira do Abutre e o "SP Metal 2". Roadie Crew: Explique o porquê do nome adotado pela banda. Como foram as primeiras reações das pessoas ao nome e ao som? Ricardo: Sei lá... Abutre parecia um bicho escroto, de alguma forma agressivo, e que tinha a ver com o som também escroto que fazíamos. Isso foi bem no comecinho. Pensamos em vários nomes, mas nada fazia muito sentido. Adalberto: A idéia do Abutre teve a ver com a nossa influência meio Punk do início da banda. Roadie Crew: Como foram os primeiros ensaios? Quais foram as primeiras composições criadas? Quem eram os responsáveis pela criação das músicas? Ricardo: Os primeiros ensaios foram uma desgraça completa. Ninguém sabia tocar nada e as musicas eram feitas por todos nós, se é que dá para chamar de música aquilo que fazíamos. Para se ter uma idéia, o Adalberto tocou bateria pela primeira vez na vida comigo fazendo barulho na guitarra... Muito louco. Depois de alguns anos o Wagner se firmou como letrista e a música ficava conosco. Adalberto: Nos primeiros ensaios tocávamos na sala de visitas da casa de minha mãe. Ninguém conseguia ficar em casa. Não tínhamos a menor noção das coisas. Por diversas vezes queimamos a aparelhagem de som sofisticada do meu pai, ligando guitarra, baixo e voz nestes equipamentos. Roadie Crew: Quais eram as influências musicais da banda? Tocavam algum cover? Ricardo: No início não tocávamos cover porque, como lhe disse, não sabíamos tocar. Fazíamos alguns barulhos e irritávamos profundamente o avô do baterista, que morava numa casa vizinha a dele. Gostávamos, e ainda gostamos, de AC/DC, Iron Maiden, Rush, Van Halen, Judas Priest, Ozzy, Black Sabbath, Metallica, Ramones, Queen, Led Zeppelin, Deep Purple e etc. Depois, quando conseguimos aprender algo, passamos a fazer covers do Black Sabbath, Ozzy Osbourne e Iron Maiden, principalmente. Adalberto: Sempre mesclamos alguns covers junto com as nossas composições. Ficava legal nos shows e nos ajudavam a evoluir musicalmente. Roadie Crew: Quando e onde foi o primeiro show? Como foi a resposta do público? Ricardo: Foi num clube de campo que não lembro mais o nome. Era um desfile de uma "Miss qualquer coisa" e tocamos com uns "punks", que de punk só tinham os discos do Sex Pistols. Era uma molecada de classe média alta enchendo o saco dos vizinhos e deixando os pais desesperados. Foi horrível! Adalberto: O Ricardo tem razão, mas acho que esta apresentação nem deveria contar. O público só estava interessado nas misses. Na verdade, nossa primeira apresentação para um público de Rock mesmo, foi no Carbono 14. Foi a partir daí que começamos a conhecer as principais bandas do cenário Heavy Metal da época. Roadie Crew: Fale sobre a criação do logotipo e da postura visual da banda. Ricardo: O logo foi feito por desenhista que conhecíamos, primo do Rubão, então baixista do Centúrias. O visual... Lamentável. Após vinte anos damos boas risadas sobre tudo o que rolou. Era uma parada meio Glam. Tinha muito do visual Califórnia anos 80, tipo Mötley Crüe e Ratt. Sonhávamos com o estrelato e quase deu certo! Adalberto: O visual, como disse o Ricardo, era baseado nas bandas que ouvíamos na época. Antes do "SP Metal", tínhamos um logo com um abutre tirado de um antigo desenho da Disney, se não me engano. O logo feito pelo primo do Rubão, foi encomendado quando fomos convidados pelo Calanca para gravar o "SP Metal 2". Roadie Crew: Como se deu o convite para integrar o "SP Metal 2"? Ricardo: O Luizinho (Calanca) nos convidou. O Wagner era bem chegado do Luiz. Ele é um sujeito muito louco e até hoje de vez em quando eu passo lá na Baratos Afins para darmos risadas, relembrarmos das histórias engraçadas e comprar uns discos. Esse cara é realmente uma das maiores figuras que já conheci. Muito bom no que faz e com uma visão do mundo totalmente única. Não existe som que ele não conheça. Adalberto: Tínhamos o sonho de gravar um disco, mas não tínhamos recursos financeiros para isto. Com o lançamento do primeiro "SP Metal" e a gravação de um compacto da Chave do Sol, vimos uma chance real disto acontecer, com a ajuda da Baratos Afins. Dado que tínhamos um relacionamento muito legal com as outras bandas da época e que estávamos batalhando muito nos ensaios e apresentações, o convite acabou vindo naturalmente. Roadie Crew: Por que escolheram as faixas Quando o Fogo Começa a Arder e Rock Rock Rock, que integraram o "SP Metal 2"? Como foi esta escolha? Ricardo: Eram as músicas mais novas que havíamos feito. Estávamos num processo de criação intenso. Cada dia aprendíamos uma coisa nova e queríamos por tudo no nosso som. Adalberto: As músicas eram novas, mas, pelo que me lembro, não as mais novas, pois tínhamos que gravar as duas numa única sessão de estúdio e tinham que estar bem ensaiadas. Roadie Crew: Conte alguns detalhes e curiosidades do processo de gravação das músicas para o "SP Metal 2". Ricardo: Foi durante uma madrugada. Doze horas ininterruptas de gravação, sem direito a muita viagem. A grana era totalmente financiada pelo Luiz Calanca e, como todos sabemos, gravar em vinil nunca foi barato. Era um esforço de todos nós tentarmos o melhor possível, no menor tempo. Gravamos em oito canais analógicos. Não existiam os recursos de hoje. Qualquer banda pode gravar hoje em dia o que quiser, quando quiser e com uma merreca de dinheiro, se compararmos aos custos de produção de vinte anos atrás. Era caro demais! Nossos instrumentos eram medievais. Usei o amplificador Music Man do Rubens Gióia, da Chave do Sol, para gravar. Gastamos mais doze horas na mixagem. Adalberto: Como o Ricardo falou, as sessões foram durante a madrugada, que era a hora mais barata do estúdio e foi tudo muito intenso. Me lembro que depois de terminado, eu não agüentava mais ouvir as músicas que havíamos gravado! Roadie Crew: Como foi a receptividade do público após o lançamento do "SP Metal 2"? Ricardo: Foi legal. Foi uma época em que já tínhamos um som mais bem feito. Fizemos uma porrada de shows no interior e em São Paulo. Lira Paulistana, Praça do Rock, Carbono 14, Palmeiras, Circulo Militar de Campinas, Jundiaí, Santos, SESC Pompéia, Rainbow Bar, Raio Laser, enfim, pudemos tocar em vários lugares. Foi a melhor fase da banda. Adalberto: O legal da gravação do disco é que o público passou a conhecer mais a nossas músicas e a cantá-las nos shows. Roadie Crew: Como era a união das bandas participantes? Ricardo: Só conhecia mesmo os caras do Santuário. O Mika é um cara gente finíssima. Tocamos algumas vezes juntos e trocávamos muita informação. Com as outras bandas quase não tivemos contato. A gente se dava mais com o pessoal do Golpe de Estado, Chave do Sol e Centúrias. Os caras do Vírus eram legais também. Eles tiveram alguma influência na formação do Abutre. Adalberto: Tínhamos um relacionamento legal com o pessoal do Salário Mínimo também. Roadie Crew: Como o lançamento do "SP Metal 2" ajudou a carreira do Abutre? Ricardo: Funcionou como um cartão de visitas. Conseguíamos mais shows e com melhor produção do que anteriormente. Aprendemos a conviver com melhores instrumentos e músicos mais experientes. Hélcio Aguirra, Rubens Gióia, Paulo Zinner, Tigueis, Paulão (batera do Centúrias), entre outros. Adalberto: O disco foi isso mesmo, um cartão de visitas. Nos abriu várias portas para shows, principalmente no interior. Chegamos até a ter um empresário! Roadie Crew: Houve alguma mudança na formação do Abutre? Ricardo: Nunca. Nós começamos e acabamos a banda sem alterações. Roadie Crew: Como você se sente sendo um músico que participou da criação da cena do Metal nacional? Como pode comparar o nosso cenário na época do "SP Metal 2" com o que temos atualmente? Ricardo: Não tínhamos equipamentos. Era proibitivo comprar guitarras importadas. Tudo era caro e raro. Hoje está muito melhor. As bandas tocam melhor, pois a Internet popularizou o aprendizado musical. A tecnologia definitivamente deu vazão a vários talentos e continua dando. Não sei se são Heavy Metal, ou RAP, ou Hip-Hop, ou Rock ou qualquer coisa, mas acho que temos mais bandas competentes hoje do que naquela época. Sinto-me feliz por ter conseguido deixar um registro do nosso som. Tenha certeza que tudo foi obra do Luiz Calanca, um visionário! O mais engraçado é que naquela época a molecada só queria saber de Power Metal e nós procurando algo mais melódico, mais Hard Rock. Hoje parece que estávamos o caminho certo. Adalberto: É, foi uma época muito legal. Difícil, mas legal. Nos divertimos muito. Roadie Crew: Quais as outras bandas nacionais daquela época você destacaria? Ricardo: Golpe de Estado, Chave do Sol e Centúrias. Esse caras eram nossos amigos, sempre tocávamos juntos e freqüentávamos os ensaios uns dos outros regularmente. Eles eram, e são, músicos excelentes. Aprendíamos muito com todos eles. Adalberto: Lembro também do Harppia, a banda anterior do Hélcio Aguirra. Chegaram a gravar com a Baratos Afins também, com o Tibério na bateria. Roadie Crew: De todas as bandas participantes das duas edições do "SP Metal" somente o Korzus e o Salário Mínimo ainda estão na ativa. Por que a sua banda se separou? O que ocorreu? Ricardo: Nós paramos de tocar depois de um show no Palmeiras, em 1986, que foi o melhor que fizemos em toda breve existência da banda, que durou seis anos. Na verdade, já estávamos de saco cheio do som que fazíamos, das roupas escrotas que usávamos e decidimos então nos trancar por um ano em nosso estúdio e compor tudo do zero. Queríamos mudar o nome da banda também. Compramos instrumentos e equipamentos bons. Tudo importado. Ocorre que os gostos musicais começaram a variar. Cada um começou a curtir uma coisa. As idéias já não batiam como antes, apesar de tentarmos transformar tudo em Rock. Nesse meio tempo o trabalho fora da banda e os estudos universitários acabaram nos tirando o foco da banda e desencanamos de tocar. Nossos ensaios viraram um encontro de amigos roqueiros e fazíamos boas jams sessions. Adalberto: Sobreviver da música neste país é, ou pelo menos era, muito arriscado naquela época. Cansamos de ver excelentes músicos sem conseguir reconhecimento financeiro. Não falo em ficar rico, mas em conseguir um padrão de vida digno. Acho que o motivo principal da banda ter terminado foi o fato de que, a certa altura, decidimos tratá-la com um hobbie. A partir daí, deixou de ser a prioridade. Roadie Crew: Por onde andam e o que fazem os músicos atualmente? Ricardo: Todos seguem vidas normais e viraram executivos de multinacionais. Exatamente o que achávamos que não iríamos fazer nunca! Adalberto: Pois é. Hoje, quando mostro fotos do Abutre para os colegas do trabalho, ninguém acredita! Roadie Crew: Deixe uma mensagem final para a nova geração, que não teve contato direto com a época do "SP Metal". Ricardo: Sejam felizes, sigam seus instintos, não usem drogas - cerveja pode (risos) -, estudem muita música, trepem de camisinha, não tenham preconceitos sobre sons, ritmos, melodias ou harmonias. Música não é time de futebol, é arte. Não rotulem as coisas. Deixem que mídia faça isso por vocês...Sacaram? Adalberto: É isso mesmo, não tenham preconceitos! Existe muita música boa no mundo. Site Oficial: não tem RAIO-X Banda: Abutre Nome completo: Ricardo Giudice Idade: 37 anos Data e local de nascimento: 03/07/1967, em São Paulo (SP) Estado civil: Casado Função: Guitarrista Como aprendeu a tocar: Estudando com Michel Perie (Jaguar, Firebox) e outros caras Quando começou a gostar de Heavy: Em 1981 Primeiro show de Rock que assistiu: De verdade, o Queen no Morumbi (SP), em 1981 Primeiro disco e camiseta de Rock que comprou: AC/DC - Back In Black Bandas em que tocou: Abutre e The Royal Guardians Lugar onde mora atualmente: São Jose dos Campos (SP) Melhor banda de todos os tempos: Difícil dizer... Tem muita coisa boa! Contato: giudice@bighost.com.br Banda: Abutre Nome completo: Adalberto Flávio Rosado Júnior Idade: 39 anos Data e local de nascimento: 04/06/1965, em São Paulo (SP) Estado civil: Casado Função: Baterista Como aprendeu a tocar: Tinha um amigo (Ocimar) que começou a fazer aulas de batera justamente na época em que montamos o Abutre. Ele me deu várias dicas e o básico para poder prosseguir sozinho Quando começou a gostar de Heavy: Desde muito pequeno (não me lembro quando precisamente) já gostava Rock. Meu primo Renato, um pouco mais velho, tinha muitos discos e eu freqüentava muito sua casa. Com ele aprendi a gostar de Rock. Me lembro das primeiras bandas que ouvi como Led Zeppelin, Deep Purple, Backman-Turner & Overdrive, Status Quo, Suzy 4, Black Sabbath, Focus, Rush, Pink Floyd, Stones, Aerosmith, Queen, Emerson, Lake & Palmer, Frank Zappa, Genesis, Nazareth... Primeiro show de Rock que assistiu: Van Halen, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo (SP) Primeiro disco e camiseta de Rock que comprou: Emerson, Lake & Palmer (Trilogy) Bandas em que tocou: Abutre e hoje toco com uns amigos do trabalho, por diversão Lugar onde mora atualmente: São Bernardo do Campo (SP) Melhor banda de todos os tempos: Se é pra dizer uma, Rush! Contato: afrosado@hotmail.com
ROCK! ROCK! ROCK ! - Por Ricardo Batalha (Roadie Crew) No cenário do Heavy Metal não é muito comum uma banda permanecer com seu line-up inalterado, já que as mudanças de músicos são constantes e ocorrem por diversos motivos. Entretanto, desde quando surgiu, em junho de 1982, até anunciar o encerramento de suas atividades em meados de 1986, a banda paulistana Abutre manteve sua formação intacta, com Adalberto Flavio Rosado Jr. (bateria), Tomas Catafay (baixo), Wagner Giudice (vocal) e Ricardo Giudice (guitarra). E esta união dos músicos começou na época de escola, quando todos perceberam que tinham em comum a paixão pelo Rock e o Heavy Metal. Ricardo havia acabado de ganhar uma guitarra de seu tio, Tomas ia comprar um baixo e, a princípio, Wagner seria o baterista. Pouco tempo depois, Tomas apresentou Adalberto aos irmãos Giudice com a idéia de formar uma banda, e ele acabou ficando com o posto, deixando Wagner livre para se dedicar aos vocais. Os quatro começam a compor músicas próprias e ensaiá-las, mesclando com alguns covers de bandas que admiravam. Desta forma, o Abutre montou seu repertório e começou a se apresentar no circuito underground de São Paulo. Como a boa receptividade dos shows, são convidados por Luiz Calanca a integrar a coletânea "SP Metal 2", na vaga que fora aberta pelo Harppia, que partiu para a gravação do EP A Ferro e Fogo. As duas faixas eternizadas pelo Abutre foram Quando o Fogo Começa a Arder e Rock Rock Rock. A seqüência de shows, aparições em programas de TV e rádio fizeram com que o Abutre voasse alto, conquistando uma considerável legião de fãs. Mesmo com o "fenômeno Rock In Rio", realizado em janeiro de 1985, não houve o apoio necessário às bandas brasileiras de som mais pesado e desta forma a chance do Abutre gravar um álbum inteiro não veio. Com isso, os músicos começaram a ter outras prioridades na vida, acabando por encerrar as atividades após um show apoteótico no festival "Metal 4", ao lado do Centúrias, Salário Mínimo e A Chave do Sol, realizado no dia 3 de maio de 1986, no ginásio da Sociedade Esportiva Palmeiras, em São Paulo (SP). Na entrevista a seguir, Ricardo Giudice e Adalberto Rosado Jr. falam mais sobre a carreira do Abutre e o "SP Metal 2". Roadie Crew: Explique o porquê do nome adotado pela banda. Como foram as primeiras reações das pessoas ao nome e ao som? Ricardo: Sei lá... Abutre parecia um bicho escroto, de alguma forma agressivo, e que tinha a ver com o som também escroto que fazíamos. Isso foi bem no comecinho. Pensamos em vários nomes, mas nada fazia muito sentido. Adalberto: A idéia do Abutre teve a ver com a nossa influência meio Punk do início da banda. Roadie Crew: Como foram os primeiros ensaios? Quais foram as primeiras composições criadas? Quem eram os responsáveis pela criação das músicas? Ricardo: Os primeiros ensaios foram uma desgraça completa. Ninguém sabia tocar nada e as musicas eram feitas por todos nós, se é que dá para chamar de música aquilo que fazíamos. Para se ter uma idéia, o Adalberto tocou bateria pela primeira vez na vida comigo fazendo barulho na guitarra... Muito louco. Depois de alguns anos o Wagner se firmou como letrista e a música ficava conosco. Adalberto: Nos primeiros ensaios tocávamos na sala de visitas da casa de minha mãe. Ninguém conseguia ficar em casa. Não tínhamos a menor noção das coisas. Por diversas vezes queimamos a aparelhagem de som sofisticada do meu pai, ligando guitarra, baixo e voz nestes equipamentos. Roadie Crew: Quais eram as influências musicais da banda? Tocavam algum cover? Ricardo: No início não tocávamos cover porque, como lhe disse, não sabíamos tocar. Fazíamos alguns barulhos e irritávamos profundamente o avô do baterista, que morava numa casa vizinha a dele. Gostávamos, e ainda gostamos, de AC/DC, Iron Maiden, Rush, Van Halen, Judas Priest, Ozzy, Black Sabbath, Metallica, Ramones, Queen, Led Zeppelin, Deep Purple e etc. Depois, quando conseguimos aprender algo, passamos a fazer covers do Black Sabbath, Ozzy Osbourne e Iron Maiden, principalmente. Adalberto: Sempre mesclamos alguns covers junto com as nossas composições. Ficava legal nos shows e nos ajudavam a evoluir musicalmente. Roadie Crew: Quando e onde foi o primeiro show? Como foi a resposta do público? Ricardo: Foi num clube de campo que não lembro mais o nome. Era um desfile de uma "Miss qualquer coisa" e tocamos com uns "punks", que de punk só tinham os discos do Sex Pistols. Era uma molecada de classe média alta enchendo o saco dos vizinhos e deixando os pais desesperados. Foi horrível! Adalberto: O Ricardo tem razão, mas acho que esta apresentação nem deveria contar. O público só estava interessado nas misses. Na verdade, nossa primeira apresentação para um público de Rock mesmo, foi no Carbono 14. Foi a partir daí que começamos a conhecer as principais bandas do cenário Heavy Metal da época. Roadie Crew: Fale sobre a criação do logotipo e da postura visual da banda. Ricardo: O logo foi feito por desenhista que conhecíamos, primo do Rubão, então baixista do Centúrias. O visual... Lamentável. Após vinte anos damos boas risadas sobre tudo o que rolou. Era uma parada meio Glam. Tinha muito do visual Califórnia anos 80, tipo Mötley Crüe e Ratt. Sonhávamos com o estrelato e quase deu certo! Adalberto: O visual, como disse o Ricardo, era baseado nas bandas que ouvíamos na época. Antes do "SP Metal", tínhamos um logo com um abutre tirado de um antigo desenho da Disney, se não me engano. O logo feito pelo primo do Rubão, foi encomendado quando fomos convidados pelo Calanca para gravar o "SP Metal 2". Roadie Crew: Como se deu o convite para integrar o "SP Metal 2"? Ricardo: O Luizinho (Calanca) nos convidou. O Wagner era bem chegado do Luiz. Ele é um sujeito muito louco e até hoje de vez em quando eu passo lá na Baratos Afins para darmos risadas, relembrarmos das histórias engraçadas e comprar uns discos. Esse cara é realmente uma das maiores figuras que já conheci. Muito bom no que faz e com uma visão do mundo totalmente única. Não existe som que ele não conheça. Adalberto: Tínhamos o sonho de gravar um disco, mas não tínhamos recursos financeiros para isto. Com o lançamento do primeiro "SP Metal" e a gravação de um compacto da Chave do Sol, vimos uma chance real disto acontecer, com a ajuda da Baratos Afins. Dado que tínhamos um relacionamento muito legal com as outras bandas da época e que estávamos batalhando muito nos ensaios e apresentações, o convite acabou vindo naturalmente. Roadie Crew: Por que escolheram as faixas Quando o Fogo Começa a Arder e Rock Rock Rock, que integraram o "SP Metal 2"? Como foi esta escolha? Ricardo: Eram as músicas mais novas que havíamos feito. Estávamos num processo de criação intenso. Cada dia aprendíamos uma coisa nova e queríamos por tudo no nosso som. Adalberto: As músicas eram novas, mas, pelo que me lembro, não as mais novas, pois tínhamos que gravar as duas numa única sessão de estúdio e tinham que estar bem ensaiadas. Roadie Crew: Conte alguns detalhes e curiosidades do processo de gravação das músicas para o "SP Metal 2". Ricardo: Foi durante uma madrugada. Doze horas ininterruptas de gravação, sem direito a muita viagem. A grana era totalmente financiada pelo Luiz Calanca e, como todos sabemos, gravar em vinil nunca foi barato. Era um esforço de todos nós tentarmos o melhor possível, no menor tempo. Gravamos em oito canais analógicos. Não existiam os recursos de hoje. Qualquer banda pode gravar hoje em dia o que quiser, quando quiser e com uma merreca de dinheiro, se compararmos aos custos de produção de vinte anos atrás. Era caro demais! Nossos instrumentos eram medievais. Usei o amplificador Music Man do Rubens Gióia, da Chave do Sol, para gravar. Gastamos mais doze horas na mixagem. Adalberto: Como o Ricardo falou, as sessões foram durante a madrugada, que era a hora mais barata do estúdio e foi tudo muito intenso. Me lembro que depois de terminado, eu não agüentava mais ouvir as músicas que havíamos gravado! Roadie Crew: Como foi a receptividade do público após o lançamento do "SP Metal 2"? Ricardo: Foi legal. Foi uma época em que já tínhamos um som mais bem feito. Fizemos uma porrada de shows no interior e em São Paulo. Lira Paulistana, Praça do Rock, Carbono 14, Palmeiras, Circulo Militar de Campinas, Jundiaí, Santos, SESC Pompéia, Rainbow Bar, Raio Laser, enfim, pudemos tocar em vários lugares. Foi a melhor fase da banda. Adalberto: O legal da gravação do disco é que o público passou a conhecer mais a nossas músicas e a cantá-las nos shows. Roadie Crew: Como era a união das bandas participantes? Ricardo: Só conhecia mesmo os caras do Santuário. O Mika é um cara gente finíssima. Tocamos algumas vezes juntos e trocávamos muita informação. Com as outras bandas quase não tivemos contato. A gente se dava mais com o pessoal do Golpe de Estado, Chave do Sol e Centúrias. Os caras do Vírus eram legais também. Eles tiveram alguma influência na formação do Abutre. Adalberto: Tínhamos um relacionamento legal com o pessoal do Salário Mínimo também. Roadie Crew: Como o lançamento do "SP Metal 2" ajudou a carreira do Abutre? Ricardo: Funcionou como um cartão de visitas. Conseguíamos mais shows e com melhor produção do que anteriormente. Aprendemos a conviver com melhores instrumentos e músicos mais experientes. Hélcio Aguirra, Rubens Gióia, Paulo Zinner, Tigueis, Paulão (batera do Centúrias), entre outros. Adalberto: O disco foi isso mesmo, um cartão de visitas. Nos abriu várias portas para shows, principalmente no interior. Chegamos até a ter um empresário! Roadie Crew: Houve alguma mudança na formação do Abutre? Ricardo: Nunca. Nós começamos e acabamos a banda sem alterações. Roadie Crew: Como você se sente sendo um músico que participou da criação da cena do Metal nacional? Como pode comparar o nosso cenário na época do "SP Metal 2" com o que temos atualmente? Ricardo: Não tínhamos equipamentos. Era proibitivo comprar guitarras importadas. Tudo era caro e raro. Hoje está muito melhor. As bandas tocam melhor, pois a Internet popularizou o aprendizado musical. A tecnologia definitivamente deu vazão a vários talentos e continua dando. Não sei se são Heavy Metal, ou RAP, ou Hip-Hop, ou Rock ou qualquer coisa, mas acho que temos mais bandas competentes hoje do que naquela época. Sinto-me feliz por ter conseguido deixar um registro do nosso som. Tenha certeza que tudo foi obra do Luiz Calanca, um visionário! O mais engraçado é que naquela época a molecada só queria saber de Power Metal e nós procurando algo mais melódico, mais Hard Rock. Hoje parece que estávamos o caminho certo. Adalberto: É, foi uma época muito legal. Difícil, mas legal. Nos divertimos muito. Roadie Crew: Quais as outras bandas nacionais daquela época você destacaria? Ricardo: Golpe de Estado, Chave do Sol e Centúrias. Esse caras eram nossos amigos, sempre tocávamos juntos e freqüentávamos os ensaios uns dos outros regularmente. Eles eram, e são, músicos excelentes. Aprendíamos muito com todos eles. Adalberto: Lembro também do Harppia, a banda anterior do Hélcio Aguirra. Chegaram a gravar com a Baratos Afins também, com o Tibério na bateria. Roadie Crew: De todas as bandas participantes das duas edições do "SP Metal" somente o Korzus e o Salário Mínimo ainda estão na ativa. Por que a sua banda se separou? O que ocorreu? Ricardo: Nós paramos de tocar depois de um show no Palmeiras, em 1986, que foi o melhor que fizemos em toda breve existência da banda, que durou seis anos. Na verdade, já estávamos de saco cheio do som que fazíamos, das roupas escrotas que usávamos e decidimos então nos trancar por um ano em nosso estúdio e compor tudo do zero. Queríamos mudar o nome da banda também. Compramos instrumentos e equipamentos bons. Tudo importado. Ocorre que os gostos musicais começaram a variar. Cada um começou a curtir uma coisa. As idéias já não batiam como antes, apesar de tentarmos transformar tudo em Rock. Nesse meio tempo o trabalho fora da banda e os estudos universitários acabaram nos tirando o foco da banda e desencanamos de tocar. Nossos ensaios viraram um encontro de amigos roqueiros e fazíamos boas jams sessions. Adalberto: Sobreviver da música neste país é, ou pelo menos era, muito arriscado naquela época. Cansamos de ver excelentes músicos sem conseguir reconhecimento financeiro. Não falo em ficar rico, mas em conseguir um padrão de vida digno. Acho que o motivo principal da banda ter terminado foi o fato de que, a certa altura, decidimos tratá-la com um hobbie. A partir daí, deixou de ser a prioridade. Roadie Crew: Por onde andam e o que fazem os músicos atualmente? Ricardo: Todos seguem vidas normais e viraram executivos de multinacionais. Exatamente o que achávamos que não iríamos fazer nunca! Adalberto: Pois é. Hoje, quando mostro fotos do Abutre para os colegas do trabalho, ninguém acredita! Roadie Crew: Deixe uma mensagem final para a nova geração, que não teve contato direto com a época do "SP Metal". Ricardo: Sejam felizes, sigam seus instintos, não usem drogas - cerveja pode (risos) -, estudem muita música, trepem de camisinha, não tenham preconceitos sobre sons, ritmos, melodias ou harmonias. Música não é time de futebol, é arte. Não rotulem as coisas. Deixem que mídia faça isso por vocês...Sacaram? Adalberto: É isso mesmo, não tenham preconceitos! Existe muita música boa no mundo. Site Oficial: não tem RAIO-X Banda: Abutre Nome completo: Ricardo Giudice Idade: 37 anos Data e local de nascimento: 03/07/1967, em São Paulo (SP) Estado civil: Casado Função: Guitarrista Como aprendeu a tocar: Estudando com Michel Perie (Jaguar, Firebox) e outros caras Quando começou a gostar de Heavy: Em 1981 Primeiro show de Rock que assistiu: De verdade, o Queen no Morumbi (SP), em 1981 Primeiro disco e camiseta de Rock que comprou: AC/DC - Back In Black Bandas em que tocou: Abutre e The Royal Guardians Lugar onde mora atualmente: São Jose dos Campos (SP) Melhor banda de todos os tempos: Difícil dizer... Tem muita coisa boa! Contato: giudice@bighost.com.br Banda: Abutre Nome completo: Adalberto Flávio Rosado Júnior Idade: 39 anos Data e local de nascimento: 04/06/1965, em São Paulo (SP) Estado civil: Casado Função: Baterista Como aprendeu a tocar: Tinha um amigo (Ocimar) que começou a fazer aulas de batera justamente na época em que montamos o Abutre. Ele me deu várias dicas e o básico para poder prosseguir sozinho Quando começou a gostar de Heavy: Desde muito pequeno (não me lembro quando precisamente) já gostava Rock. Meu primo Renato, um pouco mais velho, tinha muitos discos e eu freqüentava muito sua casa. Com ele aprendi a gostar de Rock. Me lembro das primeiras bandas que ouvi como Led Zeppelin, Deep Purple, Backman-Turner & Overdrive, Status Quo, Suzy 4, Black Sabbath, Focus, Rush, Pink Floyd, Stones, Aerosmith, Queen, Emerson, Lake & Palmer, Frank Zappa, Genesis, Nazareth... Primeiro show de Rock que assistiu: Van Halen, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo (SP) Primeiro disco e camiseta de Rock que comprou: Emerson, Lake & Palmer (Trilogy) Bandas em que tocou: Abutre e hoje toco com uns amigos do trabalho, por diversão Lugar onde mora atualmente: São Bernardo do Campo (SP) Melhor banda de todos os tempos: Se é pra dizer uma, Rush! Contato: afrosado@hotmail.com
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