Rádio a Ferro e Fogo Online

20.2.11

AS DEVOTAS DE INRI CRISTO - VERSÕES MÍSTICAS

SEM COMENTÁRIOS

QUEM TIVER TEMPO E CORAGEM LEIA ESSA ENTREVISTA. O CARA É DOIDO




SÃO QUATRO VERSÕES ASSUSTADORAS

1. BREAKING THE LAW
2. EYES OF THE TIGER
3. CRUSADER
4. HOTEL CALIFÓRNIA



ATÉ QUE AS DEVOTAS DÃO PRO GASTO KAKAKAA

EXCLUSIVO: INRI CRISTO, O AUTO-PROCLAMADO SÍMIO MAIS ANTIGO DO MUNDO, FAZ REVELAÇÕES APOCALÍPTICAS AOS REPÓRTERES DO MUNDO SÍMIO - Parte 1

Nosso Editor-Chefe posa ao lado do INRI ao cabo da bombástica entrevista
CURITIBA - O fim do mundo, atos revolucionários, a hecatombe nuclear, a perversão da sociedade atual, sexo, macacos, bilboquê, sinuca, vinho - tudo o que interessa foi abordado pelo Mestre, sem qualquer frescura ou papas na língua, na entrevista exclusiva que bondosamente nos concedeu dia 12.06.2004, na sede da SOUST (Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade) em Curitiba/PR.

As revelações do Mestre foram de tal ordem que nosso Editor-Chefe, convencido pelos insofismáveis argumentos de INRI CRISTO, converteu-se imediatamente à sua fé, na tentativa matreira de se tornar um dos "eleitos" que se salvarão do fim do mundo. O fato foi devidamente registrado pelas lentes do nosso repórter, como se nota no flagrante abaixo.

Humildade

A igreja do INRI está localizada em uma espécie de "Capão Redondo" ou "Rocinha" de Curitiba. O bairro, chamado Alto Boqueirão, é de fato uma boca bem distante do centro da bela capital paranaense, e fica próximo ao Zoológico Municipal - talvez daí o gosto do Mestre pelos símios. Simples como ele, as instalações de seu templo dão a medida da seriedade de sua doutrina, que não cobra nada de ninguém e tampouco tem muitos fiéis. É preciso peito para ser devoto do Mestre, como comprovou nosso Editor-Chefe.

Já empobrecidos pelos gastos no frete de um pau-de-arara para chegar até Curitiba, e sobretudo pelo custo da charrete que nos levou até a SOUST, chegamos lá ao meio-dia, em monástica e famélica humildade, já pensando em filar um prato de comida do Mestre.

Na verdade, o que nos deixou mais sem grana foram as caras roupas de gala que adquirimos especialmente para a ocasião. Tais roupas, feitas em estilo medieval, são de alta sofisticação como se vê abaixo.

No que começamos a fuçar na fachada do prédio do Mestre à procura da campainha (afinal, como se pode ver é totalmente inexpugnável a fortaleza em que o Messias de Curitiba se preserva do mundo), de súbito, e sem que esperássemos, a porta se abriu para nós. "O Mestre já está fazendo dos seus milagres", pensamos credulamente. Na verdade, a sentinela do INRI - uma de suas várias discípulas - já nos observava quando apeávamos da charrete e pagávamos os R$ 28,00 que o Seu Júlio, motorista da condução, nos cobrou pelo longo traslado.

O importante é que fomos muito bem recebidos pelas gentis e prestativas discípulas do Mestre (dizemos discípulas porque só avistamos um discípulo do sexo masculino no local, aquele que volta e meia acompanha o INRI na televisão, mas que logo se retirou, provavelmente para dar cumprimento aos seus serviços do dia). Diante da pluralidade de seguidoras mulheres, todas jovens e de boa cepa, obtemperamos: "O Mestre, de fato, é um homem sábio".


O filme e a aparição à James Brown

Logo de cara levamos um chá de cadeira. Afinal, o Mestre compreensivelmente não ia se deixar apresentar assim de uma vez, tampouco a forasteiros de caras tão suspeitas e estranhas como os repórteres do Mundo Símio. Como preâmbulo da audiência que se seguiria, as freirinhas, digo, as discípulas do Mestre pediram educadamente que assistíssemos a um filme sobre os prodigiosos feitos do Mestre.

Assim que o vídeo começou a exibir as imagens, pudemos descobrir um pouco da missão, dos atos e glórias do INRI. Do que mais gostamos foi uma espécie de procissão, que vagou pelas ruas centrais de Curitiba levando o Mestre numa pesada liteira - na verdade uma espécie de trono real com escoras - em meio a uma verdadeira multidão de fiéis. Todos bradavam em uníssono, repetidas vezes: "INRI CRISTO é o unigênito de Deus", e portavam faixas com dizeres louvando o Jesus brasileiro, denunciando ainda os abusos cometidos contra ele.

Estavam os repórteres do Mundo Símio vidrados na magnificência do espetáculo quando, de repente, ouviu-se uma movimentação do lado de dentro de uma grossa cortina que estava à frente dos bancos da igreja. Num ato espontâneo, todas as freirinhas, digo, todas as discípulas do Mestre se ajoelharam (conferir foto abaixo), e, de olhos fixos na cortina que era lentamente descerrada por uma colega, aguardavam a aparição do Deus encarnado.

 
Deus aparece na frente dos repórteres do Mundo Símio: ele está gripado

O Mestre. INRI CRISTO. O Jesus reencarnado. O verbo divino materializado. O Messias de Curitiba estava diante de nós.

Sentado calmamente em um esplendoroso trono entalhado em madeira-de-lei, INRI CRISTO placidamente apareceu frente aos nossos ávidos olhos. A cena toda lembrou-nos outro Rei, só que deste mundo: James Brown, the king of funk. A introdução das discípulas, toda a mise-en-scène preparatória, a ansiedade da platéia e finalmente o descerrar das cortinas - tudo contribuiu para esse grande culminar que foi a aparição do Mestre.

Pasmos e sem reação, os repórteres mantiveram-se calados diante do Deus-vivo. O INRI, como que para desanuviar o ambiente, começou logo a dirigir-lhes a palavra, com generosas menções a este modesto site. "Eu li os textos de vocês, elas imprimiram e me passaram... eu gostei desse negócio de símio..."

Como os repórteres estranharam o Mestre estar de meia-brancas, além de um capote vermelho para proteger-lhe do frio (que, de fato, era de lascar) e um lenço na mão para assoar freqüentemente o nariz, ele já foi logo se perdoando: "me desculpem a voz, mas é que eu estou gripado, essa gripe é forte... eu peguei em Portugal, já faz tempo, e até agora não me recuperei completamente..."

É compreensível. Afinal, como o INRI esclareceu depois, ele é o Deus encarnado, sendo portanto tão homem quanto qualquer um de nós, sujeitando-se às mesmas contingências.

O INRI, definitivamente, cativara os repórteres do Mundo Símio, que pensavam que iriam encontrar um Deus fechado e carrancudo (na verdade, não sabiam nem se sairiam vivos dali). O Deus encarnado é um puta boa praça.

A entrevista, enfim - INRI revela: o fim dos tempos é uma questão de matemática e, quando isso acontecer, o bicho vai pegar forte. O Mundo Símio aconselha: para se dar bem no fim dos tempos, faça logo um curso de agronomia.


Feitas as apresentações entre o Messias e os repórteres, fomos todos para uma salinha ao lado do templo, apertada mas aconchegante. É ali que o Mestre realiza as suas audiências, pelo que pudemos supor.

Após pedir que fechassem a abertura do exaustor que ventilava e, por isso, esfriava o ambiente (coisa prejudicial à saúde do Mestre), o INRI pediu para chamar um seu chegado. Tratava-se, segundo ele, de um engenheiro vindo do Pará para lhe ver. O sujeito o acompanha há uns vinte anos, como nos foi relatado, e já apareceu até na Globo por conta de sua devoção a INRI CRISTO, fato que lhe causou vários problemas no emprego. Compreende-se.

Depois de algumas perguntas mais institucionais, e que serão reveladas ao nosso público leitor nas próximas partes da entrevista, fomos logo perguntando ao Mestre sobre o que interessa: o fim do mundo.

Diante de tão importante questão, que vai ao encontro de revelações místicas só a ele comunicadas pelo Criador, o Mestre pediu para falar tudo de uma vez, sem interrupção. Dada, naturalmente, a anuência dos repórteres do Mundo Símio, o Mestre persignou-se e falou de si para si umas palavras baixas e incompreensíveis, olhando para o céu.

Visivelmente alterado, numa espécie de transe o Mestre pô-se a falar sem parar, como um rapper. O sotaque, mais carregado que nunca, mostrava que o que se dizia era revelação da grossa, e não uma simples pregação qualquer. Ficamos pasmos ouvindo as apocalípticas palavras do enviado do Senhor a Curitiba:

MS: Muita gente, inclusive falando com base no Apocalipse, cogita do fim do mundo. O senhor acha que esse progressivo caos da humanidade conduzirá a alguma forma de apocalipse?


INRI: Eu vou te falar tudo de uma vez só. Tem coisas que eu tenho de falar sem ser interrompido. Depois você pergunta, se quiser, sobre os detalhes.

MS: Certo.


INRI: Os homens, fazendo mal uso do livre arbítrio, construíram armas destrutivas, violaram as sagradas leis de Deus e esqueceram também dos santos mandamentos. Semearam, dessa forma, através de atos e pensamentos, catástrofes e terremotos, que, acompanhados da hecatombe nuclear, culminará com o fim deste mundo caótico. Menos de 1 milhão de pessoas restarão vivas na Terra, e a maioria será constituída de mutilados que suplicarão a morte, que em princípio não lhes ouvirá. Deus, nosso Pai, único Senhor do Céu e da Terra, será glorificado durante os próximos mil anos. Não viverá um só ser humano na Terra que não reconheça sua onipotência e sua onipresença. Todos se submeterão a um princípio de justaposição espiritual e permanecerão fiéis a Ele, cumprindo-se o que eu disse antes de ser crucificado: que chegará um dia em que haverá um só rebanho e um só pastor. Os eleitos e seus descendentes não manterão disputas políticas, territoriais ou religiosas. Todos caminharão juntos, com o pensamento voltado para um só ideal. A fraternidade existirá efetivamente entre os homens, que, despidos da hipocrisia, ódio, maldade, egoísmo e da chantagem emocional, estarão empenhados em cumprir os santos mandamentos. As prisões serão transformadas em escolas. Porque, no futuro, o homem, purificado no sofrimento, evoluirá, e a delinquência será extinta. A Medicina evoluirá e encontrará a cura dos males que atormentam o corpo no espírito, porque, após muito sofrimento e erro, a humanidade se conscientizará de que todas as fraquezas e todas as enfermidades físicas têm sempre início na enfermidade da alma. O sexo será exercitado como um rito de veneração a Deus. O homem, despido dos instintos bestiais, quase consciente dos mistérios da procriação, unir-se-á à mulher sob a luz da espiritualidade, reconhecendo a sua origem divina. O dinheiro será utilizado unicamente como elo sagrado, que facilitará o relacionamento humano. A humanidade voltará à vida simples e livre, em comunhão íntima e perene com a natureza. E preferirá o manjar simples e natural dos frutos e vegetais. A profissão mais nobre, durante os próximos mil anos, será a Agricultura. O homem buscará na Mãe Terra o pão místico para o banquete divino com a mesma inocência com que as crianças buscam no seio materno o leite vital que lhes faculta o crescimento e a sobrevivência, ante o olhar dúlcido e aprovador de nosso Pai.

MS: ...?


INRI: Eu falei tudo assim pra poder em cima disso explicar o porquê da hecatombe nuclear, que é inevitável. Nem que eu me ajoelhasse o resto da minha vida, e ficasse de joelhos na frente de Deus, não conseguiria impedir a extinção nuclear. Isso é uma coisa inevitável. É uma questão matemática. Porque a Terra tem várias faces matemáticas que devem ser levadas em conta para analisar isso. A explosão demográfica é uma coisa que salta aos olhos. Então como fazer para reverter esse quadro? Fechar os olhos? Ignorar a camada de ozônio, ignorar a violação do meio ambiente? Vamos enxergar com os olhos da razão, e vamos compreender sem hipocrisia, sem falsa ética, que algo está muito errado, e que não tem outra forma de deter a explosão demográfica, senão através da hecatombe nuclar. Não é que eu queira que isso vá acontecer, mas é inevitável. Por enquanto está se protelando, mas chegará o momento em que não tem protelação, que não tem como impedir. Só depois disso que eu falei é que o ser humano estará preparado para observar a Lei, isto é, aqueles que sobrarem. Porque vão acontecer coisas horrorosas, que o filme "O Dia Seguinte" não conseguiu sequer esboçar. Essas coisas estão para acontecer, e vão acontecer porque é inevitável. Eu mesmo, que tive a visão sobre o fim do mundo, porque tenho o meu lado que é humano, pensei: "eu também?". Vi que de todos os lados vinha a desgraça. E vi que é inevitável. Agora, tem muita gente que me odeia, blasfema, me xinga por eu dizer que eu sou Cristo, por eu dizer isso, ou aquilo, ou aquilo outro. Só que ninguém vem questionar a minha realidade. Ninguém quer saber por que eu digo isso. Enquanto os outros habitantes da Terra durmiam noites serenas, eu era acordado de madrugada, na calada da noite, para ver a parede do alojamento em que eu me albergava sair, desaparecer e enxergar o terrível vale de desgraças que esperam pela humanidade. Eu cresci assim. Às vezes passavam quase seis meses sem aquilo, e eu pensava comigo: "Graças a Deus, tudo isso acabou". Mas aí começava tudo de novo. Eu estava sendo preparado para depois falar ao mundo as coisas que estão por vir. E isso foi a minha infância toda. Eu fui à escola 3 anos, na minha vida toda. Eu sou teodidata. Eu não tenho instrução acadêmica. Eu estudei 3 anos na escola só pra ser alfabetizado. Sou instruído pelo meu Pai.

(É isso aí, por hoje. Considerando que a audiência com o INRI durou quase 3 horas, o material será divulgado paulatinamente, a cada 48 horas, para que nossos leitores se recuperem do impacto das revelações do Mestre. Até breve. Fiquem na paz do INRI. P.S.: futuramente, trechos em mp3 da entrevista)
22.6.04


ENTREVISTA COM INRI CRISTO - PARTE 2

O MESTRE PONDERA E ADVERTE: É PRECISO TOMAR MUITO CUIDADO COM O TERRÍVEL "BEBÊ-ENCOSTO".

O Mestre é enfático ao advertir as moças sobre o medonho bebê-encosto
A despeito da presumível falta de sabedoria para fazê-lo, os repórteres do Mundo Símio, num momento de tresloucada e inadvertida ousadia, dispuseram-se a tentar se instruir com o INRI a respeito, vamos dizer assim, de temas mais filosóficos da doutrina cristã - isto é, da doutrina dele.

Porém, como se verá nas respostas abaixo, de cara o Mestre deixou claro que, para debater com ele, os repórteres do Mundo Símio ainda precisavam comer muito arroz com feijão - ou então, muito alho cru com vinho, que é a alimentação básica do Mestre e seus seguidores, conforme nos revelou uma de suas discípulas (o que, sem dúvida, embora possa ser muito saudável, não recomenda o INRI e seu pessoal para fazer propaganda de pasta de dente).

No trecho abaixo, INRI CRISTO explica, sem deixar quaisquer dúvidas, o motivo pelo qual só a carne dos peixes pode servir de alimento e, de quebra, faz uma terrível revelação: todo cuidado é pouco contra o invencível "Bebê-Encosto".

MS: Considerando que o senhor tomou consciência de ser a reencarnação de Cristo, o senhor deve se lembrar também de muitas coisas que estão na Bíblia. Por exemplo: num dos Evangelhos, conta-se que Jesus teria dito que se deve nascer e depois morrer, e depois nascer de novo, e depois morrer outra vez...


INRI: Eu disse isso para o Nicodemus. O Nicodemus era um homem já de idade, considerado mestre em Israel. Ele vinha ter encontros reservados comigo, me questionando sobre os mistérios da lei de Deus. Ele não entendia o que eu falava, porque ele tinha a cabeça cheia de livros, era um erudito. Porque um erudito é uma pessoa que engole muitos livros sem fazer a triagem. E daí engole um monte de abobrinha também. Ele tinha a cabeça dele cheia de livros, e não cabia mais nada. Aí eu disse assim: "Vós necessitais nascer de novo". Ele me disse: "Mas como, eu, nascer de novo? Eu, já velho, por acaso vou reentrar no ventre da minha mãe?". Eu disse: "Quem não nascer de novo não pode conhecer os mistérios do reino de Deus". Essa é uma das vezes em que eu falei sobre a reencarnação.

MS: Há quem diga que, ao dizer isso, o senhor quis dizer que era preciso nascer e morrer várias vezes, numa mesma encarnação, de modo a se modificar e...


INRI: Fantasia, né? A gente sai do ventre da genitora, aspira o primeiro hausto de ar vivificante e, junto com ele, o espírito se apossa. É equívoco pensar que o espírito está dentro do ventre da mãe, porque o espírito não fica onde tem água. É por isso que os animais que vivem debaixo da água eu como. Eles não têm espírito. Eu não como cadáver de vaca, de boi, de galinha, porque tem espírito. Quando um indivíduo está no ventre materno, ele não em espírito, o espírito está do lado de fora, esperando a hora de avançar sobre o corpo. Isso foi que o meu Pai me mostrou. Por esse motivo é que, na hora em que a criança nasce, ela dá aquele choro: é o choro do acoplamento, a hora em que o espírito se apossa do corpo. Se não fosse assim, quando houvesse um aborto, o espírito ia ter de voltar pra fila, né? (risos)

MS: É verdade.
INRI: Eu sei de casos em que a mulher não queria casar, não queria ter filhos e o espírito ficou em cima dela, porque a predestinação dela era ser a genitora dele. E ele não sossegou enquanto não junto ela a um varão pra ter o filho. A pessoa não quer, mas o espírito fica ali, até juntar os dois corpos. Às vezes é difícil explicar por que ele escolhe aquela pessoa. Tem alguma coisa a ver com a lei do carma, a lei do retorno. É o que também pode ser chamado de predestinação. Mas como nada acontece na Terra sem o consentimento de Deus, nenhuma mulher consegue abortar quando alguém tem de nascer. Não consegue.

MS: Então a mulher que pratica um aborto não está fazendo mal a um espírito.


INRI: Não. Esse feto não merece o status de criança, porque não consegue ser independente. Não conseguiria servir de veículo para o espírito que está ali fora.
24.6.04


ENTREVISTA COM INRI CRISTO - PARTE 3

O Mestre pregava com fervor quando ainda era um simples profeta, sempre acompanhado por um copo de boa cerva para molhar as palavras

O MESTRE NOS REVELA O SEU DIFÍCIL COMEÇO, E A DUREZA QUE FOI CHEGAR DE SIMPLES PROFETA A FAMOSO MESSIAS. CONTA AINDA QUE O SEU LANÇAMENTO FOI ABORTADO PELO AZAR DE O "BONEQUINHO" SER DE FERRO, MUITO DURO DE QUEBRAR.
Pois é, meus caros. Ninguém começa como Messias. É preciso ralar muito até chegar no ápice da carreira de filho de Deus. O INRI mesmo começou lá de baixo.

Era como simples profeta que ele vaticinava acontecimentos mirabolantes, ao lado de uma garrafa de birita, nos bares em que militava - certamente o único ambiente que continha pessoas abertas e dotadas de bom senso suficiente ao entendimento de suas avançadas idéias.

Mas veio então a revelação, da parte do seu Pai: era preciso demonstrar a todos que ele era a reencarnação de Jesus, aquele mesmo lá da Galiléia. O Pai ordenou-lhe então que "fizesse uma revolução em Belém do Pará e arrancasse o bonequinho da cruz perante milhares de pessoas, rompendo definitivamente com a minha antiga Igreja".

Mas tempos antes, o INRI confessa, ele já tentara fazer a revolução. No entanto, apesar de apoiado por mais de 3.000 pessoas, não pôde em Caxias do Sul quebrar o boneco: o miserável artesão que fez o ícone o construíra com ferro. Aí não deu pra quebrar o danado. "Serviu só de balão de ensaio, entendeu?" - explica o Mestre.

MS: Qual foi a sua intenção ao criar a SOUST, Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade?
INRI: Na verdade, não é intenção. Eu não escolhi fundar uma nova ordem religiosa. Eu não escolhi dizer que sou Cristo. E ninguém é obrigado a crer. Eu cumpro uma ordem divina. Então, a SOUST nasceu da santa cólera do meu Pai, ao ver que a minha Igreja anterior se prostituíra, se transformara na meretriz do Apocalipse 17.

Quando eu me chamava Jesus, eu disse assim: "Pedro, tu és pedra e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja", no singular. "Mas as portas do inferno não prevalecerão contra ela". Agora as portas do Inferno estão prevalecendo sobre a minha Igreja: Inquisição, venda de indulgências, venda de sacramentos... Eu disse: "Ide, curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expeli demônios, dai de graça o que de graça recebestes" (Mateus, 10, versículo 8). Eles cobram para casar, para batizar e até para enterrar os chamados mortos.

Então meu Pai determinou que eu fizesse uma revolução em Belém do Pará e arrancasse o bonequinho da cruz perante milhares de pessoas, rompendo definitivamente com a minha antiga Igreja. Eu fui boicotado pela imprensa. Eu só fui mostrado sendo preso, mas tudo mais foi filmado. A revista Veja escreveu uma lacônica matéria, escrita por um free-lancer, e nunca me deu o direito de me expor. Apenas qualificou-me de louco. Eu fui submetido por conta desse ato, oficialmente, a um exame psiquiátrico, por uma junta psiquiátrica, nomeada pelo Dr. Jaime dos Santos Rocha, que afirmou que nem no dia do Juízo Final poderiam dar um diagnóstico, porque eu atuo numa outra esfera, e eles não me alcançam para me avaliar. Tudo isso aconteceu e ficou escondido.

Mas, respondendo à sua pergunta, o motivo pelo qual eu fundei a minha Igreja é este: por mais que eu seja desprezado, por mais que ignorem a minha Igreja, eu fiz a minha parte. Quanto ao desprezo, à reprovação que eu venho sofrendo há mais de vinte anos, isso está previsto. Em Lucas, capítulo 17, versículo 35, está escrito que eu seria rejeitado por minha geração antes do dia de glória do Senhor. Está escrito também no Apocalipse, capítulo 1, versículo 14, que, quando chegasse o dia de glória do Senhor, eu estaria de cabelos brancos. Por enquanto ainda não estou com os cabelos brancos. E eu não tenho pressa. Ninguém nasce de cabelo branco. Logo, tem que esperar o tempo passar.

MS: E por que o senhor escolheu Belém do Pará para este ato simbólico?


INRI: Falaste bem: o Senhor escolheu. Eu já tinha percorrido o Brasil todo. Estive em todas as capitais brasileiras, nas principais cidades; em São Paulo, na Praça da Sé, no Rio de Janeiro, na Cinelândia, em Copacabana, o Brasil todo. E Ele disse que eu voltasse a Belém do Pará. A última capital que eu visitei no Brasil foi Macapá. E quando eu estava lá, o Senhor disse: "tu voltas a Belém (eu já tinha estado lá em 1.981), que lá é que vai ser o palco da Revolução". Porque até o nome combina, tem tudo a ver com o lugar onde eu haveria de renascer para humanidade, com um significado simbólico. Eu havia tentado praticar este ato em Caxias do Sul e ele foi abortado, porque o boneco era de ferro. Daí foi inútil, não deu pra fazer nada. E tinha 3 mil pessoas comigo lá. Serviu só de balão de ensaio, entendeu?

MS: Nós vimos muita gente acompanhando o senhor, tanto no ato de Belém do Pará quanto em procissões de que o senhor participa. Imaginamos, portanto, que essas pessoas sejam, digamos, seus seguidores. O senhor tem idéia de quantos seguidores o senhor tem hoje?


INRI: Eu não posso montar uma estatística. Primeiro, porque eu não cadastro as pessoas que vêm aqui. Segundo, porque, inclusive como testemunho da minha autenticidade e honestidade, eu tenho o tamanho da minha Igreja; eu sou o libertador, eu não cabresto ninguém. A pessoa vem aqui, toma a benção, arranja emprego se está desempregado e vai seguir a sua vida. Eu não obrigo ninguém a vir aqui, não cadastro. Só frequentam, no sábado, aqui, aqueles que deveras sabem quem sou. O restante vem e vai. Eu vejo nesses 20 e poucos anos que eu estou sediado aqui que vem muita gente, e tem muita gente que depois escreve de outro país, outra cidade, agradecendo, e seguem suas vidas. Uns entendem o significado da missão, outros não. Outras vêm até aqui pra tomar uma benção e depois vão agradecer a uma estátua. Eu não proíbo elas de fazerem isso, eu apenas olho com piedade. O coitado não enxergou que foi Deus que abençoou.
28.6.04


ENTREVISTA COM INRI CRISTO - PARTE 4

O Mestre ameaça, com toda justiça, dar um golpe de karatê se não cessarem as perguntas cretinas feitas por nosso pouco instruído repórter


SEXO


Dentre as muitas durezas da vida de um símio, a mais triste é a ignorância.

Sim, porque ao invés de continuarem perquirindo o Mestre a respeito das questões filosóficas, históricas e espirituais que uma conversa minimamente inteligente com o Filho do Homem exigiria - tais como os métodos malignos de convencimento utilizados pelo impiedoso Bebê-Encosto, o destino do bonequinho de gesso que o INRI arrancara da cruz da igreja de Belém do Pará (teria sido ele guardado junto aos sagrados pertences do Messias como lembrança de data tão importante, ou teria sido apenas lançado à lata do lixo como uma reles bugiganga?) ou sobre serem ou não os anfíbios e os ornitorrincos seres dotados de alma -, os repórteres do Mundo Símio, ignorantes de pai e mãe, resolveram apoquentar o INRI com perguntas sobre sexo, esse assunto ultrapassado e sem graça.

É fato que a culpa não foi inteiramente nossa.

Logo que adentramos aos domínios do INRI, não pudemos deixar de notar que boa parte das devotas que vieram nos recepcionar não eram de se jogar fora. Especialmente em se tratando do caso deste famélico repórter, que, num cálculo sincero, está sem praticar esse pecado há pelo menos uns 5 anos - não por convicção religiosa e nem, muito menos, por falta de tentativa. A fome também é uma dureza dos diabos.

Antes da aparição do Mestre, fui obrigado a sussurrar de soslaio a Dom Gustavo que talvez fosse o caso de, após a sessão, convidarmos as freirinhas do INRI para tomar um drinque ou coisa parecida - embora nenhuma delas tenha dado o mínimo de espaço para tal, o que, cá pra nós, é coisa com que já estou acostumado. Perante o olhar de desprezo dele, tentei contornar a situação explicando-lhe que as moças eram bonitas, apesar das roupinhas, digamos, um tanto fora de moda, conforme se pode ver nas fotos que acompanharam o primeiro trecho da entrevista.

- O Mestre não é bobo - ele me respondeu secamente, sem dar maior importância.

Pois é. Foi daí que tivemos a infeliz idéia de perguntar ao INRI como é que funcionava essa história de sexo lá no templo dele. Afinal de contas, quem proíbe e limita a prática do sexo é aquele desgramado do Papa, sujeito com quem o INRI já cortou relações - e que, especulo eu, não perde por esperar, pois, ao que tudo indica, o Mestre está fechado com o Homem lá de cima.

Depois de termos ouvido as explicações do Mestre a respeito dos sábios princípios alimentares que inspiram Ele e seus seguidores (a velha história do peixe desalmado), cocei a cabeça e pus-me de cócoras feito um bugio a obrar, para então, naquela confortável posição, apreciar Dom Gustavo perguntar sutilmente ao Mestre se, entre eles, também haveria princípios sexuais a serem seguidos.

Tive a impressão de que, num primeiro momento, o Mestre não gostou muito da pergunta, a considerar a expressão de impaciência com que se apresentou a sua santa face. Tanto que Dom Gustavo, para se explicar melhor, em seguida observou que, assim como o ato de se alimentar de seres com alma (como o frango à passarinho ou a pizza de calabresa) pode, pelo menos em algumas culturas, ser considerado uma prática natural do homem, o mesmo poderia se dar com relação à prática do sexo - o que não é o meu caso, pois tudo leva a crer que isso, para mim, é coisa definitivamente proibida através de édito celestial assinado de próprio punho pelo Pai. Prosseguindo na exposição, Dom Gustavo ponderou que, se há princípios a serem seguidos para a alimentação, nada haveria de se estranhar se também os houvesse para o sexo.

Foi um debate bonito de ver, daqueles que instrui e faz pensar.
MS: Há, naturalmente, uma orientação, apesar de as pessoas serem livres. Mas assim como a orientação alimentar, há uma orientação sexual...
INRI: Eu entendi. Queres uma explicitação completa do sexo. O sexo, a princípio, é para fins procriativos. Então, fora disto ele pode gerar ódio. Podes odiar um homem que está morando com uma mulher porque estás apaixonado por ela, e alguém pode te odiar por tu estares morando com a mulher por quem ele está apaixonado. Há um leque enorme de paixões nas baixas esferas. Agora, como está implantado esse sistema na Terra, então eu não digo para ninguém deixar de fazer assim. Ao contrário, têm pessoas aí da igreja que pedem "mas INRI, como é que eu faço, eu queria viver como os seus discípulos...", e aí eu digo "não, vocês não podem".

Foi triste constatar que até os candidatos a viverem no templo do INRI têm, de longe, uma vida sexual muito mais interessante do que a minha, a ponto de lhe atrapalharem as convicções filosóficas. Definitivamente, o Pai do INRI dá asas a quem não sabe voar.
INRI: Existe uma pressão muito grande na atmosfera social, que não permite que uma pessoa deixe de praticar o sexo. Dá para entender? Os discípulos, depois de tomar consciência da lei divina, eu explico para eles que aqui dentro é proibido praticar sexo. Agora, do lado de fora do muro cada um pode fazer o que quiser.

Não sei, não. Mesmo sendo um profundo desconhecedor da lei divina, não há pressão social que dê jeito na minha necessidade.

MS: Mas o ascetismo vigora dentro desta organização que o senhor instituiu...


INRI: Não. Só entram discípulos, até porque seria uma coisa absurda... Porque discípulo é aquele que segue a disciplina. Você está proibida de praticar sexo? (perguntou o Mestre, se dirigindo a cada uma das duas discípulas presentes, que respondem, cada uma delas, com um sereno "não").

Tive o ímpeto de perguntar ao Mestre se, por algum acaso, eu estaria proibido de praticar sexo, mas me segurei, porque, naquela altura, ainda estava botando alguma fé na idéia do drinque - e vai que Ele responde que eu estava.

INRI: E por que não pratica? (dirigiu-se Ele, novamente, às duas discípulas, ao que uma delas responde, com a anuência da outra: "porque descobri algo melhor").

Quase perguntei a elas o que seria a tal "coisa melhor", mas preferi deixar guardada essa carta na manga, como desculpa para a história do drinque depois da entrevista.

INRI: Então, se a pessoa não quer, não quer! Se pode comer banana e não comer feijão, se pode comer abacaxi e não comer melancia... Então, quer dizer: tu não quer, é diferente. Agora, sinceramente, tu achas que eu poderia manter dezenas de mulheres como eu tenho aqui comigo, sem elas praticarem sexo, sem elas... Não dá, se não fosse porque elas descobriram algo melhor que isso! A minha discípula mais antiga, ela tem 77 anos, ela está comigo há mais de 20... Manda ela vir, só um instante, para eles verem (em obediência ao Mestre, no ato uma das discípulas levanta-se e vai buscar a colega de 77 anos). Quanto aos meus discípulos... eu tenho discípulas e discípulos, mas para os homens é mais difícil, e mais difícil pelo seguinte: porque cobra-se dos homens que deve ser macho, que isso, que aquilo outro... e se não fizer isso, é isso e parará...

Fiquei um pouco mais esperançoso com a minha situação. Parecia que, no meu caso, o que estava faltando era cobrança. Só não consegui visualizar da parte de quem. Talvez fosse o caso de ir falar com minha pobre mãe, ela que tanto me cobrou para levar a sério os estudos - se bem que, nesse ponto, não teve muito êxito, a coitada.

INRI: E também a mulher tem uma facilidade maior para entrar na senda da espiritualidade, que já vem de longas gerações sofrendo, sujeita, porque a mulher está sujeita ao homem, então para não estar sujeita ela descobre a vontade de não praticar sexo. Agora, cada um é dono do seu nariz. Diga-se de passagem, eu sou o único que não sai sozinho. Meus discípulos vão para a rua, eles todos têm autorização assinada por mim andam sozinhos, eles têm autorização assinada por mim para andar como roupa civil, porque existe hostilidade, entende? Então eles vão lá e voltam... Eu não quero nunca que ninguém esteja aqui comigo preso por juramento. Fizeram juramento, sim, para ter proteção própria. Mas cada um faz o que bem entende.

Naquele momento, chegou a tal discípula de 77 anos, que cumprimenta e é cumprimentada por todos, mas não dá a mão, porque, como esclarece o Mestre, eles não têm o hábito de dar as mãos. Pelo que entendi da explicação, pareceu que era alguma coisa relacionada à economia de energia que flui pelo corpo, ou coisa do gênero. Eu, que dou a mão até para o mendigo que me pede esmola, achei estranho. Mas talvez seja esse o motivo pelo qual acordo cansado já pela manhã, especialmente nos dias em que preciso trabalhar.

INRI: Quantos anos você tem? (a discípula diz que vai fazer 77 em agosto). E há quantos anos está comigo? (23 anos, completados em maio, esclarece a discípula). Ela antes de me conhecer foi lá para Jerusalém, conhecer a minha sepultura lá - sepultura entre aspas -, foi para vários países. Ela conhece o Brasil todo, é profissional de marketing... Eu só queria que eles te conhecessem, tá bom? (o Mestre começa a despedir-se da discípula, que pergunta "eles estão fazendo entrevista?", ao que o Mestre responde "sim, eles são aquele Mundo Símio..."). Ela estava comigo na catedral de Belém...

MS: E a senhora segue abdicou de profissão, de alguma coisa assim...


DISCÍPULA DE 77 ANOS (com forte sotaque nortista, e sem disfarçar o seu desagrado com a pergunta besta do repórter do Mundo Símio): Eu encontrei o filho de Deus, o que eu queria mais??? Fazer o que lá fora???

Praticar sexo é que não haveria de ser, pensei na hora.

Sei não. Certamente inspirado pelo Tinhoso, não consegui evitar um outro pensamento vão e pecaminoso - e, com absoluta certeza, por conta disso vou passar o resto da eternidade na churrasqueira particular do próprio Belzebu. Por que o Mestre, justo quando se falava sobre sexo, fez questão de trazer a véia de quase oitenta anos pra gente dar uma olhada? O Pai do INRI que me perdoe, mas fiquei com a impressão de que o Mestre quis dizer algo como: "Olha, é melhor parar com essa história de sexo. Eu sei que vocês estão perguntando isso por causa das meninas que vocês viram. Mas eu só apresentei elas a vocês porque quis ser educado. Vocês viram só o filé, mas tem o osso também. Ou vocês por acaso acham que eu traço essa véia?". Maldito pensamento. Maldito, leviano e equivocado. Espero que Satanás pelo menos saiba contar algumas piadas enquanto churrasqueia seus condenados.

INRI: Ela enfrentou uma guerra jurídica para ficar comigo. A família dela quis interditá-la - e interditou-a! E ela teve que provar na Justiça, através de psiquiatria, que ela é sã (a discípula de 77 anos despede-se e sai).

Se a boa velha era sã, isso eu não posso afirmar, já que sanidade nunca foi o meu forte. Porém, ao saber que, por sugestão do delegado de polícia da região, os seguidores do INRI montavam guarda armados, de modo a evitar possíveis hostilidades vindas do lado de fora (coisa que, convenhamos, dada a ignorância geral que assola nosso mundo, não é de surpreender), achei que era ato de boa sanidade esquecer a idéia do drinque e, ao cabo da entrevista, despedi-me respeitosamente das freirinhas. Sem dar a mão, obviamente.
1.7.04


ENTREVISTA COM INRI CRISTO - PARTE 5

O Mestre é um puta gente fina


EXCLUSIVO: INRI REVELA COMO AGE O CAPETA, RELEMBRA OS TEMPOS EM QUE VIVEU NO COPACABANA PALACE, E AINDA POR CIMA EXPLICA COMO SE TOMA BANHO NUMA KOMBI


Poucas coisas são mais interessantes que o capeta, convenhamos. Foi por isso que, mal escondendo nossa profunda curiosidade, perguntamos ao INRI se ele tinha mesmo sido tentado pelo Tinhoso, pelo Coisa-Ruim, pelo Caramunhão - pelo Cão em pessoa, enfim.

Para nossa profunda surpresa, no entanto, o Mestre esclareceu, com a voz meio rouca pela gripe (e não por mandinga do Canhoto, espero) que o demônio "não é um macaco com rabo e chifre como dizem".

Mal pude acreditar: o Demo não é um macaco com rabo e chifre!

Entretanto, mesmo não sendo símio, o Lúcifer é malandro: ele não se apresenta, ele sutilmente fala no "sistema neuronial" das pessoas. Êta Tinhoso tinhoso. É por isso que nunca o vi, apesar de suspeitar já tê-lo ouvido muitas vezes, principalmente quando estou do lado de uma mulher bonita. "Agarra-ela, agarra-ela" - só pode ser o Belzebu falando no meu sistema neuronial, no intuito de ver-me currado numa delegacia de polícia.

O Mestre revela ainda que já foi bacana. Morou até no Copacabana Palace. Mas triste mesmo foi ter que morar depois numa Kombi, e andar com a sandália toda estropiada. Graças ao Pai, hoje o INRI pode repousar em sua casa de campo de Paranaguá.

Mas àqueles que forem ter com o Mestre, uma advertência preciosa: antes leiam o livro do homem, chamado "Despertador". Caso contrário, levarão uma dura como a que levamos - com toda razão, aliás. Se tem uma coisa que emputece o INRI é o interlocutor ser pouco erudito, especialmente se não tiver lido suas obras clássicas, como o dito livro com nome de rádio-relógio.

MS: São muito interessantes essas revelações que o senhor nos fez da época em que, pela primeira vez, o senhor veio à Terra. Mas há um outro episódio muito interessante, sobre o qual achamos que valeria a pena o senhor falar alguma coisa, que é aquele episódio da tentação no deserto, pelo demônio. O senhor foi tentado pelo demônio mesmo?


INRI: Como é que o demônio me tentou no deserto. Eu estava lá jejuando e o demônio... veja bem: antes de João Batista me batizar, eu estava enlameado dos pecados do mundo. É por isso que eu exigi (o batismo). Eu experimentei os pecados do mundo como qualquer ser humano, para conhecer os pecados do mundo. É por isso que na Bíblia não aparece onde eu estive dos três aos trinta anos. E quando eu fui batizado por João Batista eu exigi que eu fosse batizado porque eu sabia que o batismo significava um corte com o passado. E só depois pousou sobre mim o espírito santo, porque antes não podia porque eu estava sujo dos pecados do mundo.

Daí eu fui jejuar. Então o demônio, que não é um macaco com rabo e chifre como dizem - reparem que a minha voz está meio esquisita por causa da gripe... - não é um macaco com rabo e chifre como dizem, e sim uma entidade espiritual, um ser espiritual, um corpo sutil. E ele veio falar assim, por exemplo... uma das passagens é: "se tu és o Filho de Deus, transforma esta pedra em pão". Eu disse "nem só de pão vive o homem". Ele disse: "se tu és o Filho de Deus, atira-te daí para baixo, que está escrito que o Filho de Deus os anjos protegerão". Está escrito: "não tentarás o teu Senhor". Ele disse: "se tu és o Filho de Deus, ajoelha-te diante de mim" - e mostrou-me a cidade de Jerusalém, e todas as coisas do mundo, de luxo e de conforto... "Se tu és o filho de Deus, ajoelha-te diante de mim que eu te dou todos os reinos da Terra". Eu disse: "só ao Senhor devo adorar".

Então acontece que não era um macaco que veio. Ele veio no meu sistema neuronial falar essas coisas. E eu, vencendo as tentações, cheguei a um ponto que ele já não falou mais. Porque o demônio é um ser inteligente, e quando ele vê que não adianta, ele desiste. Mas ele persevera, e persevera muito. E neste século a mesma coisa, quando eu jejuei. Se eu não tivesse vindo ao mundo sem livre-arbítrio, as dificuldades são tantas para se conseguir sustentar uma túnica, para se caminhar de um país ao outro, como eu caminhei vinte e sete países sozinho... Inúmeras dificuldades são, que eu não teria resistido se eu tivesse livre-arbítrio.

Mas em substituição ao livre-arbítrio o Pai se manifestava e dizia "Eu sou contigo, vai adiante". Então é melhor ter Ele que o livre-arbítrio. Eu tive momentos terríveis. Quando eu fui expulso da Venezuela, eu fui desembarcar no Rio de Janeiro, num lugar onde outrora eu vivi, no hotel Copacabana Palace, na suíte 951...

MS: O senhor já viveu no Copacabana Palace?!?


INRI: É, eu vivi na suíte 951 do Copacabana Palace, no tempo em que a dona era a Mariazinha Guinle. Eu tomava banho na piscina e tudo... Então eu desembarco no Rio de Janeiro vindo da Venezuela pela aviação Avianca, de túnica, de sandália, sem dinheiro, e tendo que falar ao povo na cidade, em Copacabana, onde outrora... Quem me albergou foi a Polícia Federal...

MS: (risos)


INRI: ...porque eu vim como expulso. Então só mesmo a presença de Deus, o meu Pai, que me confortava e dizia "Eu sou contigo, tens que passar por isso, vai adiante". E eu fui adiante. Eu remendava a minha sandália... Eu nunca me esqueço um dia em que eu estava caminhando pela Avenida Copacabana, conhecida como Avenida Nossa Senhora de Copacabana, entre aspas. E era um sábado de tarde, eu estava albergado lá no Leblon, na casa de um advogado, e eu estava caminhando, porque eu não tinha o dinheiro para ir de bonde até lá no Leblon, e arrebentou a minha sandália. Aí o demônio, inevitavelmente, me disse: "se tu fosse o Filho de Deus... todo mundo está aí passeando de carro com a família, e tu estás aí mal calçado, com a sandália arrebentada, não tem ninguém sequer para consertar a tua sandália...". Então nessa hora, se não fosse o Senhor, eu me esborrachava lá mesmo, entende?

E outra vez que eu estava dormindo na casa de uma mulher, um apartamento meio humilde em Copacabana, e ela teve que ceder o apartamento para uma prostituta que veio dos Estados Unidos, porque a prostituta tinha prometido para ela que iria levá-la para os Estados Unidos, e que iria mudar a vida dela... Só que ela não sabia que era uma prostituta essa que veio lá, entendeu? Ela trabalhava, naquele tempo, vinte anos atrás, num negócio de informática no Rio de Janeiro, negócio de processamento de dados. E daí ela pegou e, por causa da promessa da outra ela teve que dizer "sinto muito, você vai ter que sair daqui, eu não vou mais poder te albergar aqui no quitinete". Aí eu estava olhando lá, na praça, olhando para o prédio, até achar alguém que me albergasse. Isso lá em Copacabana.

Só para você entender, quando alguém diz "ah, esse louco, esse farsante...", ah, e isso tudo o meu Pai dizia: "tu tens que passar por isso tudo até fundar a igreja. Aí depois que fundar a igreja, aí tu vai morar um bom tempo numa Kombi". Eu morei numa Kombi, e aí eu tomava banho em Copacabana dentro de uma Kombi. Mas já era muito melhor do que antes. Eu fechava as cortinas, e ia no posto de gasolina buscar uma água, porque não tinha ninguém no Rio de Janeiro que me desse um lugar para tomar banho, entende, onde outrora eu morei num hotel de luxo. Então, se não fosse a ordem de Deus... Mas Ele é tão bondoso e tão perfeito que ao mesmo tempo que ele, graças a Deus, me mandou ao mundo sem livre-arbítrio, quando eu precisaria do livre-arbítrio Ele se manifesta. Eu não sei explicar por que nos momentos mais terríveis que eu vivi aqui na Terra, foram os momentos em que eu estive mais íntimo com Ele. Eu não sei explicar por que que isso é assim. Nos momentos mais terríveis - sabe aquele momento em que a pessoa quer explodir - era a hora em que ele se manifestava mais veementemente, e dizia "olha, Eu sou contigo, vai adiante, confia, que lá adiante tu vais colher o que estás plantando agora". É muito difícil explicar o porquê, mas é assim. E às vezes eu olho para trás e eu digo "não é possível que hoje eu tenho a igreja". Bem ou mal, isso aqui não é um Palácio, é a casa do Senhor, e eu moro numa montanha lá em Paranaguá também, né, Ele me deu um lugar para morar perto da natureza... Mas às vezes eu penso: "qual é o melhor momento, é agora ou antes" -, porque agora Ele me instrui, Ele me fala, mas eu não peço para voltar a viver no isolamento em que eu vivi, nas condições em que eu vivi... mas a presença confortante Dele... eu estava vivendo na floresta, em "Aramboiê", na França... Ah, isso eu não vou contar, se quiserem que leiam o livro (o Mestre fica muito irritado)! Sim, porque ou vocês têm algum interesse e haverão de ler o livro "Despertador" e conhecer a minha história, porque o que está lá eu não vou mais falar...
5.7.04


PARÁBOLAS - UMA PEQUENA PAUSA PARA ESCLARECER O POVO INCULTO.


Descobri que o Mestre INRI sempre tem razão.

Tive um pequeno vislumbre dessa luz ao ver que, respondendo à percuciente, complexa e instigante indagação formulada por Dom Gustavo, qual seja, a de como seria a aparência do Capeta, o Mestre, com sagacidade, observou que Asmodeu não se tratava de um "macaco com chifres".

Eis aí um fato de que sempre desconfiei. Macaco com chifres, como muita gente já deve saber, sou eu quando me é dada a raríssima graça de namorar alguma boa moça de família. E, embora não me considere propriamente um santo homem, tendo a acreditar que, de fato, não sou o Capeta.

Convencido da santa sabedoria do santo homem (ou, melhor dizendo, do Filho do Homem lá de cima), debrucei-me sobre uma das obras do Mestre, o famoso "O Despertador", a fim de estudar com profundidade seus ensinamentos. E outra vez fui obrigado a concordar com o INRI: deveras, somente um ignóbil teria a petulância de entrevistar o Mestre sem o devido conhecimento de sua obra literária.

A santa bronca que tomamos do santo homem ao perceber que não tínhamos nos instruído o suficiente antes de ir ter com ele é mais do que justificada. Mais um pecado que vou ter de explicar ao Pai do INRI. Conforme vou me instruindo nas verdades do espírito, vejo que, no meu caso, só uma eternidade no inferno vai ser pouco.

Sendo eu um caso mais do que perdido, num ato de desprendimento e bondade, compartilho com os poucos que se dignam a ler esta pequenina confissão as revelações místicas do Messias - também na esperança, é claro, de suavizar a minha conta negativa com o Homem lá de cima, o Pai do INRI.

Se o Capeta, como sempre desconfiei, não é um macaco chifrudo, qual seria a razão pela qual ele deve ser temido? O próprio INRI, ainda na resposta a Dom Gustavo, foi enfático: Belzebu age no "sistema neuronial".

E daí me pergunto outra vez: se eu não sinto nenhuma força estranha a guiar meu sistema neuronial, como é que o Desgraçado me faz cometer tantos pecados, a ponto de já estar plenamente consciente de que, daqui pra frente, nem setenta anos de trabalhos forçados num asilo de morféticos tuberculosos vão me livrar do castigo eterno?

A resposta está na "Parábola da Escada de Sabão" (O Despertador, 4ª ed., 1.996, pág. 142).

Explica o Mestre que a tentativa de evolução do símio rumo ao reino dos céus é similar ao ato de subir, "degrau por degrau", uma escada "propositalmente" feita de sabão - coisa que, convenhamos, não é das mais fáceis, além de propiciar tombos dignos de um pastelão. Que o INRI me desculpe, mas o Pai dele tem um senso humor, para dizer o menos, discutível.

Se subir numa escada de sabão já não é prática que a boa prudência recomenda, a situação fica ainda mais complicada quando o Capeta entra em cena. Sim, porque, afora a dificuldade natural desse estranho e radicalíssimo esporte, "o cruel e impiedoso demônio urina na escada", "gargalhando" ao ver "a vítima despencar". É muita maldade. Vai mijar assim lá no raio que o parta.

Constatada essa óbvia verdade, a coisa mais natural a fazer para se livrar das artimanhas do Canhoto, segundo ensina o Mestre, "é descobrir de que maneira ele consegue urinar na escada". De fato, se estou a subir uma escada de sabão e vejo que um desgraçado está a mijar-lhe nos degraus, minha reação natural é, como diz o INRI, perguntar: "ele chega sorrateiramente pelas costas? De frente, quiçá hipnotizando a vítima incauta? Pelo lado direito ou esquerdo?". Eis aí uma questão de suma importância.

O Filho do Homem, porém, avisa que tais perguntas são pura perda de tempo - e de alguns dentes também, conforme a gravidade do tombo. E adverte que, ainda que o povo passasse "noites, semanas, meses" tentando saber de onde vem o mijo do Capeta, tudo isso seria em vão. Porque, em bombástica revelação, o Mestre afirma que o Capeta, "incorporado em vós, utiliza o vosso aparelho de urinar para molhar a escada". Filho da puta.

Agora, além de ver dominado meu sistema neuronial, descubro que também tenho dominado o meu sistema mijorial.

Ao final da "Parábola da Escada de Sabão", o INRI explica que, na verdade, o ato de mijar significa as más obras que fazemos, resultado da dominação, pelo Capeta, do sistema neuronial. A solução para controlar o mijo? Vigiar, responde o Mestre, explicando que "só assim" se pode evitar que Satanás acabe "penetrando em vosso canal de pensamento, ministrando suas idéias negativas". E daí eu me pergunto: como é que vou saber, antes de me esborrachar pelo chão, se os pensamentos que chegam ao meu sistema neuronial são produzidos pelo Capeta ou são produzidos por mim mesmo?

Admito, envergonhado, que acho que não entendi bem a "Parábola do Sabão". Vou precisar revisitar essa obra.

O que foi mais fácil de entender - apesar de não menos surpreendente e gratificante - foi a revelação de que Simão Pedro também está entre nós.

Sim, aquele mesmo cabra que, quando a casa caiu pro INRI, arregou feio para os soldados romanos, dizendo algo do tipo: "Jesus? Nunca vi esse cara na minha vida, nem sei do que vocês estão falando. Agora, por gentileza, me dêem licença, que eu preciso trabalhar."

Simão Pedro reencarnou na excelentíssima figura do "Dr. Edson Centarini, ex-delegado de polícia" e "ex-juiz de direito" (ob. cit., pág. 76). O Doutor Edson, ao que se vê, trocou a estabilidade do funcionalismo público nestas paragens pela estabilidade da eternidade lá do outro mundo, na condição de chegado do Filho do Homem. Muitas críticas podem ser feita ao velho Pedro, mas jamais a de que ele não tem vocação para arrumar bons empregos.

O que mais me chamou a atenção, contudo, foi a incontestável forma pela qual se deu a revelação da verdadeira identidade do Doutor Edson - ou Doutor Pedro, agora já não sei mais. Foi um "fato meio estranho", como ele mesmo admitiu.

Numa a viagem a São Paulo em companhia do INRI e de mais um pessoal, o Doutor Pedro, no quarto do hotel em que se hospedou, tomou um belo banho, botou um "terno limpo e prateado" e foi dar uma palavra com o Mestre.

Na presença do INRI, percebeu que "havia uma mancha de sangue de uns três centímetros de diâmetro na região da virilha". Assustado, o Doutor Pedro voltou ao banheiro e, mesmo vendo que a "cueca estava toda ensanguentada", "Não havia em meu corpo, em parte alguma, nenhum ferimento!".

Depois de tirar a "cueca suja", Sua Excelência removeu o sangue das "coxas". E o mais inacreditável de tudo: ao se vestir para ir ver novamente o Mestre, ele constatou que "minha cueca estava limpíssima na hora em que eu a vesti"!!!

Era o milagre da cueca, acrescento eu.

Depois do milagre da cueca, o próprio INRI disse ao Doutor Pedro que essa era a prova de que ele seria o Edson, ou melhor, disse ao Doutor Edson que ele seria o Pedro.

E, diante de tão insofismável "prova física", como duvidar daquela realidade? Rendido a tão concretas evidências físicas, o próprio Doutor Pedro responde: "INRI Cristo me disse e eu acredito. Eu sou a reencarnação de Simão Pedro". De fato, ninguém poderá provar o contrário, principalmente após o inarrável milagre da cueca.

Infelizmente, parece que nosso velho conhecido Simão Pedro não tem lembranças do seu passado bíblico. Só espero que ele não arranque a minha orelha com uma espada, como fez com um outro vagabundo naquela sua encarnação.



 

Esse livreto mostra a peleja do INRI em Roma. Depois de ter sido surpreendentemente mal recebido em Roma, o Mestre voltou pro Brasil para se armar com um poderoso porrete, que ele faz questão de brandir para atemorizar o Papa

7.7.04

NOTA DE ESCLARECIMENTO - FIM DA ENTREVISTA.

Nenhum comentário: