Rádio a Ferro e Fogo Online

28.6.10

HARD HEAVY BRASIL BY DAGON

Hard E Heavy Brasil (2010) Coletânea Exclusiva!!! Track List: 01 - Azul Limão - Não Vou Mais Falar 02 - Calibre 38 - Final Do Século XX 03 - Inquisição - Tempo Fechado 04 - Salario Minimo - Cabeca Metal 05 - Ano Luz - Estrelas Testemunhas Inválidas 06 - Máscara de Ferro - Máquinas No Comando 07 - Harppia - A Ferro e Fogo 08 - Avenger - Missão Metálica 09 - Centúrias - Duas Rodas 10 - Metalmorphose - Correntes 11 - Inox - Nuclear Attack 12 - Água Brava - Opressão 13 - Alta Tensao - Submundo da Carne 14 - Celso Blues Boy - Tempos Difíceis 15 - Platina - Fascínio 16 - Made in Brazil - Quente e Gostosa 17 - Astaroth - Deuses Vencidos 18 - Patrulha do Espaço - Columbia
Hoje é dia de mais um jogo da seleção e para não perder o ritmo trago pra galera uma coletânea exclusiva do blog que visa celebrar o que foi feito no Brasil durante os anos 80 no universo do Rock Pesado. Para a galera com mais de trinta isso aqui não é nenhuma novidade, mas tenho que dizer que apesar de conhecer a maioria não ouve nada dessa lista acima há muitoooo tempo, hehe. A idéia além de relembrar é também apresentar a nova geração que o Metal Brasileiro foi extremamente prolífico um dia e nem era nescessário cantar em inglês para ganhar as graças do público jovem, muito pelo contrário a imensa maioria cantava em bom português e suas músicas tocavam em rádio!!! Da seleção dessa coletãnea não existe uma única faixa que não tenha sido parte da programação de diversas rádios dedicadas ao Rock entre São Paulo e Rio como Estácio FM, Brasil 2000, Eldorado FM, Excelsior FM, 97 FM ou 97 Rock mas a mais importante mesmo foi a Fluminense FM - A Maldita do Rio, essa emissora lançou e tocou em sua programação todos os grupos acima além de muitas outras de diversos estilos que iam do Pop ao Metal sempre divulgando novas tendências no universo do Rock. Através da Maldita conheci o Azul Limão, Inquisição Harppia e todas as outras 15 lendas do Metal Brazuca acima, suas músicas embalaram festas americanas e até juninas com apresentações que as mesmas faziam em diversos locais. Naqueles tempos Rio, Sampa e BH pariam bandas igual coelhas, toda hora tinha uns garotos empunhando suas guitarras e partindo em busca do sucesso e na maioria dos casos vinham parar no Rio onde a Maldita sempre ouvia suas demos. Por outro lado o selo Baratos Afins geralmente contratava todo mundo interessado em tocar Rock, era uma época maravilhosa!!! É uma pena que hoje quando se fala do Rock Brasileiro dos anos 80 a imprensa finge que nunca existiu banda de Hard/Heavy e em seus textos citam apenas o Pop Rock ou o que eles chamam de Brock. Essa coletânea só resgata um pedacinho daquele período, muita gente ficou de fora como as bandas Thrash Dorsal ATlãntica, Overdose, Taurus, Volcano ou as Black Sepultura, Sarcófago e até mesmo as Heavy/Hard como Eclipse, Santuário, Performancces, Stress e outras que não deixaram vestígio e sumiram no mundo como o Lixo de Luxo e Fim do Mundo e tantas outras que iremos abordar em outra oportunidade. Todas as faixas são rips de vinil e não é segredo que os estúdios brasileiros eram infernalmente ruins naqueles tempos gravando tudo em dois canais e muita coisa boa soava embolado e tal, eu não sou expert em tratamento de áudio mas passei filtros para redução de ruído em todas as faixas para retirada também daqueles irritantes pops/clicks, além de aplicar equalizações clean e de volume e o resultado até que ficou bem satisfatório resultando em versões sensivelmente melhores em relação as encontradas na Internet. Com a capa também tenho que dizer que não sou expert mas ficou um negócio maneiro contendo frontal, interna, traseira e cd, dá pra imprimir e tirar uma onda com os amigos oldbangers, hehe disponibilizei em PDF e JPG ai vocês aproveitam o que estiver com a melhor resolução. O tempo total ficou em 1:hs 20 m e dá certinho pra ripar num CD de 700 MB. Essa porrada está sendo lançada simultaneamente pelos blogs Stay Rock e A Ferro e Fogo em conjunto com o Hard E Heavy. Espero que baixem, curtam, comentem e hoje mais tarde vai dar Brasil de novo!

Gangrena Gasosa - Welcome to Terreiro (RJ - 1994) - Link corrigido

Saravá metal, exu metal, macumba metal. Essas são algumas formas de classificar a banda fluminense Gangrena Gasosa. O grupo mistura temáticas e ritmos das religiões afros. O disco é de 1994.

http://sharebee.com/79c557f6

Postagem: Jô

27.6.10

CAVALAR - AS A METAL OF JACT

March of Hate - March of Hate (EP) (2010)

Gênero: Thrash Metal Origem: Monte Azul Paulista - SP (Brazil) Banda: Lucas Santos, Guitarra Jonas Santos, Bateria Mateus Santos, Baixo Alexssandro, Voz e Guitarra Track List: 01 - Caçador de Almas 02 - Infeccao Tecnologica

RÁDIO A FERRO E FOGO PROGRAMAÇÃO DE DOMINGO

por favor repasse programação dia 27.06 8H PSICODELIA 10H HARD ROCK COM BODE METAL 12H LANÇAMENTO COLETANEA A FERRO E FOGO VOLUME 7 - KAMIKAZES DO ROCK COM PAULAO 14H VISUAL AGRESSION COM CHAKAL 16H ESPECIAL KORZUS 18H HEAVY METAL DAYS - ESPECIAL PORTUGAL 20H BOB RIOT REVOLUTION 22H GUARANA METAL FIQUE CONOSCO AQUI O UNDERGROUND TEM VEZ http://rockmetalbrasil.listen2myradio.com/

26.6.10

FROZEN PAIN - ROAD OF NO END + EXTRAS ( JACAREI - SP

http://www.megaupload.com/?d=GR4ITGP6
Site da Bandahttp://www.frozenpain.com
Membros da Banda .. Shinji Shinji - Guitar Márcio Gárgula Márcio Gárgula - Guitar and vocals Juliano Juliano - Bass Shiroma Shiroma - Drums

THOR - ROCK RISE (ESPÍRITO SANTO)

BANDA DO ESPÍRITO SANTO PARA NOSSO AMIGO JÔ

UMA AULA DE ROCK NACIONAL - PARTE III

Rock Brasileiro 1976

Por Ronaldo Rodrigues
Colecionador
Apresentador do programa Estação Rádio Espacial

76 já demonstra um certo cansaço na cena, frente a tantas dificuldades enfrentadas pelas bandas para seguir adiante. Na verdade, tocar rock no Brasil naquela época era quase que uma militância. Havia verdadeiros embates a serem travados e muita gente boa não trombou o desafio de dar murro em ponta de faca por muito tempo. Além disso, a barra tava pesando musicalmente. O rock de então perdia terreno com a juventude para o simplismo e rebeldia punk e para a pasteurizada música das discotecas.

O experimental Casa Encatada - O Terço

Ainda assim, durante o ano, aconteceram diversos lançamentos de grande qualidade musical e que fundamentaram a mensagem daquela geração de rockeiros em nosso país. O Terço, no rastro do sucesso de Criaturas da Noite, lançou Casa Encantada, um trabalho que aprofundou as experiências sonoras anteriores, mas com um brilho ligeiramente menor. Havia referências mais claras à MPB e ao rock progressivo, porém não com a mesma inspiração. Algumas músicas do período ficaram de fora do disco, como a extensa "Suíte", "Velho Silêncio", "Rapoza Azul", entre outras. Hoje, esses sons podem ser conferidos no disco O Terço Ao Vivo 76, com uma apresentação da banda no Teatro João Caetano. O sucesso de Casa Encantada também foi grande e a banda se apresentou cerca de 200 vezes por ano (neste período entre 74 e 76), sem dúvidas, o período mais bem-sucedido do grupo, em público e crítica. No ano seguinte, Flávio Venturini viria a deixar o grupo.

O incrível e limado Mutantes Ao Vivo

Um dos mais incríveis trabalhos do rock na época foi devidamente estragado por uma total falta de visão empresarial e outras questões comerciais – Mutantes Ao Vivo. A formação da banda na época era Sérgio Dias, Paul de Castro (creditado como Paulo de Castro, tocando baixo e violino), Rui Motta e Luciano Alves. A banda tinha feito uma temporada de concertos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (espaço onde aconteciam muitos eventos das bandas da época), em agosto, e havia registrado o material para lançar um ousado projeto – um disco ao vivo quase todo de músicas inéditas!

O plano era de que todo o material saísse num disco duplo, com produção gráfica caprichada. Mas foram limados pelo produtor Peninha Schmidt, que alegou que o projeto seria inviável porque o custo de um disco duplo não poderia ser repassado e o disco encalharia. Enfim, mil e uma desculpas. Para piorar, o disco ainda foi todo retalhado – faixas cortadas e mixadas na ordem diferente da que foi executada no show. Isso gerou uma insatisfação muito grande na banda, e é uma triste constatação frente à qualidade do material, lançado no disco simples. Banda entrosadíssima e ótimas composições, boa qualidade sonora e energia pura. Esperamos que ainda algum dia esse imenso equívoco seja desfeito e o show seja lançado na íntegra, como era o desejo da banda.

O essencial Casa de Rock

O Casa das Máquinas daria uma outra guinada em seu som, dessa vez partindo para o rock n’ roll básico e pesado. Com a entrada do performático vocalista Simbas, a banda assume uma identidade mais “glam” no disco Casa de Rock, que teve como hits a faixa título, “Jogue tudo para a cabeça” e “Stress”. Esse seria o último disco da banda, que no fim de 77 se envolveria num polêmico episódio com um técnico da Rede Record.

A banda iria tocar no estúdio da emissora e depois de um acidente entre um veículo da emissora e outro da banda, iniciou-se uma discussão que descambou para pancadaria. O técnico em questão apanhou bastante na confusão e já tinha a saúde debilitada. Pra não queimar o filme do pessoal que se envolveu na briga, o técnico foi instruído pela segurança da emissora a não contar nada. No dia seguinte, o cara piorou e morreu no hospital, com rompimento do fígado e duas costelas fraturadas. Isso sujou totalmente a carreira da banda, que só conseguiu seguir por um pouco mais de tempo, até 78. O julgamento acabou inocentando parcialmente os membros da banda, com Simbas pegando 1 ano de prisão por homicídio culposo (que cumpriu em liberdade por ser réu primário) com a responsabilidade sendo dividida com seu irmão, que na época era menor de idade.

A estréia do Joelho de Porco

Quem estreou em disco em 76 foi o Joelho de Porco, com o disco São Paulo 1554 Hoje. Existe certa divergência de informação quanto a data do lançamento do disco – alguns dizem ser de 73, outros de 74. Mas em consulta à revistas do período, 76 é a data em que se propagou este lançamento e os shows que a banda passou a fazer. O grupo era composto pelo baterista Próspero Albanense, Ricardo Petraglia no vocal, Tico Terpins no baixo (o principal compositor da banda), Serginho Sá no piano, Flavinho Pimenta na bateria, Didi Guder com a percussão e Walter Bailot na guitarra. O Joelho de Porco passou a ser um marco no período pela interessante combinação de um rock possante com um humor ácido e escrachado, usando eventualmente para tal, ritmos caribenhos, vaudeville e doo-wop em suas composições.

As letras revelam uma visão crítica (feita com bastante irreverência) do cotidiano da megalópole paulista e musicalmente existem ali pérolas do nosso rock setentista, como “São Paulo By Day”, “Meus Vintes e Seis Anos” e “A Lâmpada de Edson”.

Os gaúchos do Bixo da Seda

Outra estréia também foi a do Bixo da Seda. A banda surgiu a partir do grupo Liverpool, formado em 67 no Rio Grande do Sul. Gravada em 69, com o instigante nome de Por Favor Sucesso, a estréia vinílica da banda não surtiu o efeito que o nome pregava, mesmo fazendo um bom som na esteira psicodélica-tropicalista. No ano seguinte, a banda seria responsável pela trilha do filme Marcelo Zona Sul, com Françoise Fourton e Stepan Necessian, hoje bastante disputado por colecionadores. O grupo passou a radicar-se no Rio de Janeiro e encerrou as atividades em 73, com vários dos músicos voltando para o sul.

Em 75, um novo encontro dos músicos Foguete (vocal, flauta e percussão), Mimi Lessa (guitarra), Marcos Lessa (guitarra) e Édson Espíndola (bateria) geraria o Bixo da Seda. Após gravarem o disco, em fins de 75, se mudariam novamente para o Rio de Janeiro, onde agregaram Renato Ladeira (ex-A Bolha, tocando teclados) e durante o período também Vinícius Cantuária, numa época em que passaram a tocar com duas baterias. Fizeram muitos shows em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, tocaram no Festival de Rock da Praia do Leste (ou Festival Rock de Verão, no Paraná) e no Festival Som, Sol e Surf em Saquarema.

A estréia do Bixo da Seda

O disco saiu em 76, batizado de Estação Elétrica, mesclando um rock n’ roll de primeira qualidade, por vezes pesado e com alguns toques progressivos no instrumental. Depois do disco, houve algumas trocas de formação até o fim dos anos 70, sendo que uma parte da banda passou a acompanhar o emergente grupo pop-disco “As Frenéticas”. O disco acabou sendo o único do grupo, que se desmanchou depois de mais alguns poucos anos.

Em 76, a banda A Barca do Sol lançou seu trabalho definitivo – Durante o Verão, novamente com produção de Egberto Gismonti. Tão lírico quanto os anteriores, com mais guitarra elétrica e bateria, esse disco é um ponto alto na música do período, mesmo não sendo puramente “rock”, como a própria banda gostava de deixar claro. Ainda A Barca do Sol gravaria mais um disco, chamado Pirata, em 78 e um outro disco em parceria com a cantora Olivia Byington.

A Barca do Sol

O Festival Som, Sol e Surf é um capítulo um pouco escuro da história de nosso rock, porque há pouquíssimas informações a respeito do acontecido. Organizado por Nélson Motta, os poucos relatos sobre o festival são feitos pelo próprio, que repetidamente o descreve como um grande fiasco, tanto artístico quanto de público. Logo no primeiro dia, na cidade litorânea de Saquarema, no estado do Rio de Janeiro, uma chuva forte abateu o local do evento, prejudicando a estrutura organizada e o cronograma. Fora isso, o público foi bem abaixo do esperado e o organizador ficou praticamente falido. Tocaram lá as bandas Made in Brazil, Vímana, Raul Seixas, O Terço, Bixo da Seda e Ângela Rô Rô (na época uma estreante cantora), entre outros. Para exemplificar como estavam as coisas naquele ano, Nélson partiu para um projeto muito mais bem sucedido, onde conseguiu saldar todas as suas dívidas – a boate Dancin’ Days, na Gávea - embarcando fundo na onda da disco-music e abandonando de vez a idéia dos festivais de rock ao ar livre.

O ótimo Saecula Saeculorum

Em Minas Gerais, apareceria o Saeculum Saeculorum, que havia começado em 74. Participaram de um grande festival em Minas, chamado “Camping Pop” e em 76 entraram em estúdio para registrar uma fita demo, a fim de negociar um contrato com a gravadora Warner. O contrato não rolou e o material ficou esquecido, com a banda encerrando as atividades em 77. Somente nos idos de 1996 é que esse material veio à luz, graças ao garimpo do violinista do grupo, Marcus Viana (futuro integrante do grupo Sagrado Coração da Terra). A formação do grupo era Marcus Viana (violino e vocais), Giácomo Lombardi (piano), José Audísio (guitarras), Bob Walter (bateria), Edson Plá Viegas e Juninho (baixo) e a gravação revela um som de grande qualidade musical, numa linha sinfônica e com instrumental de primeira grandeza.

Terreno Baldio

76 também assistiu o lançamento do primeiro disco do Terreno Baldio (que foi gravado ainda em 75), grupo paulistano que já estava na estrada dando o que falar. A formação clássica da banda era João Kurk nos vocais e flauta, Mozart Mello na guitarra, Roberto Lazzarini nos teclados, João Ascenção no baixo e Joaquim Côrrea na bateria. A história do grupo começa pelos idos de 66, quando Rodolfo Ayres Braga e Joaquim Correa formaram a banda Islanders, junto de João Kurk e Roberto Lazzarini, que era uma banda de covers que se concentrava em tocar o que havia de mais “underground” em termos de hard e rock psicodélico. Ficaram juntos nesse projeto até 71. João Kurk também participou de outro grupo de covers, chamado Utopia.

As cabeças foram evoluindo até que João e Roberto partiram para as idéias próprias, por volta de 73-74, influenciadas pelas grandes bandas progressivas inglesas – Yes, Camel, Renaissance, Gentle Giant, etc. O disco homônimo, estréia da banda, também sofreu de um mal similar ao que acometeu o lançamento do disco ao vivo dos Mutantes e também do não-lançamento da suíte “Amazônia” do Som Nosso de Cada Dia. Por pressão da gravadora, a banda não conseguiu gravar todo o material que tinha composto na época, previsto inicialmente para um disco duplo. Seus shows no período eram compostos de três movimentos – "Aqueloô", "Pássaro Azul" e "Terreno Baldio". É triste observar a produção pobre do disco, com um som fraco e mal equalizado, anos-luz distante da qualidade musical das composições, da letra e da interpretação do grupo. No ano seguinte, o Terreno gravaria outro importante trabalho – Além das Lendas Brasileiras, com uma formação diferente.

Considerações Finais

Sem complexo de inferioridade e nem auto-estima nacionalista exacerbada, a história do rock brasileiro no período é valorosa, primeiramente pelo esforço imenso de tantos talentos envolvidos em lutar por sua arte e também pela competência musical demonstrada, obstante o fato de que o que ficou para a posteridade não tenha (em grande parte) uma qualidade técnica à altura das obras e nem sempre ser a representação do som que as bandas faziam no palcos, pelas pressões de produtores e gravadoras, que sempre insistiam num som mais palatável, comercialmente falando. Os obstáculos postos pela ditadura dificultavam os encontros, os shows e a concentração de apreciadores, dificultava a importação de instrumentos e equipamentos de boa qualidade e censurava os lançamentos (das bandas locais e das estrangeiras).

Frente a isso, com bravura, se desenvolveu uma música jovem que nem sempre foi movida totalmente pela originalidade (algumas influências nítidas de bandas internacionais se percebem no som daqui, assim como ocorreu com freqüência em muitos outros países do mundo), mas representou com grande qualidade a geração a que pertenceu, seu senso musical mais aberto e disposto a experimentações musicais, estabelecendo novas fronteiras dentro do rock, que são devidamente execradas pela crítica atual. É lamentável saber que muitos trabalhos da época ainda andam perdidos por aí em porões e estúdios, aguardando o feliz dia de virem à luz. Mais lamentável ainda é ver a grande quantidade de bandas (muitas delas de grande potencial, segundo os relatos de quem os conheceu) que nem mesmo chegou a gravar algum material.

Joelho de Porco

Fica a história ainda obscurecida pela grande mídia, nesse período, especialmente pela idéia largamente vendida de um “vácuo” entre a jovem guarda, na metade dos anos 60, e a onda pop-rock dos anos 80, ignorando sumariamente que muitos dos nomes que despontaram nos anos 80 já tinham experiências musicais muito mais interessantes em anos anteriores.

Para finalizar, fica o apelo de que se alguém se identificar como um dos músicos das bandas citadas favor se manifestar, fazendo eventuais correções nas informações e acrescentando histórias do período, para engrandecer ainda mais a memória deste período incrível.

Alguns sons representativos do período:

Casa das Máquinas - "A Natureza"

Raul Seixas – "As aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor"

Rita Lee & Tutti Frutti - "Ciclo Vicioso"

A Barca do Sol – "Brilho da Noite"

Sá & Guarabyra - "São Nicolau"

Mutantes - "Pitágoras"

Som Nosso de Cada Dia - "Massavilha"

Arnaud Rodrigues - "Murituri"

Assim Assado - "Lunática Marciana"

Novos Baianos - "Alunte"

Moto Perpétuo - "Conto Contigo"

Perfume Azul do Sol - "Era de Aquarius"

Ave Sangria – "Momento na Praça"

O Peso - "Eu não sei de Nada"

O Terço - "1974"

Rita Lee & Tutti Frutti - "O Toque"

Lula Cortês e Zé Ramalho - "Raga dos Raios"

Apokalypsis - "Amanhã"

Veludo - "Egoísmo"

Luiza Maria - "No fundo do Poço"

Casa das Máquinas - "Astralização"

Mutantes - "Loucura pouca é bobagem"

Terreno Baldio - "Este é o lugar"

Bixo da Seda - "Vênus"

A Barca do Sol – "Pilares da Cultura"

Saecula Saeculorum - "Acqua Vitae"

Alceu Valença – "Punhal de Prata"

O Terço – "Solaris"

Joelho de Porco - "Meus 26 anos"

Bandas ativas na época das quais não se tem informação suficiente nem registros e que não foram citadas ao longo dos textos:

- Pêndulo Mágico

- Fogo de Santelmo

- Sociedade Anônima (de Rui Motta antes de ingressar nos Mutantes)

- Flor de Lótus (de Luciano Alves antes de ingressar nos Mutantes)

- Onomatopéia (de John Flavin)

- Legião Estrangeira (de Celso Blues Boy, Ernesto Blogg e Fernando)

- Humauaca (Billy Bond, Américo Iça, Daniel Mencini, Emílio Carreira, Willy Verdaguer, Dudu Portes, Chico de Medori, John Flavin e Márcio Werneck)

- Erupção

- Ninfas

- Tapete Mágico

- Grupo Cartaz

- Conjunto Habitacional

Leia também: Rock Brasileiro 1975

UMA AULA DE ROCK NACIONAL - PARTE 2

Rock Brasileiro 1975

Por Ronaldo Rodrigues
Colecionador
Apresentador do programa Estação Rádio Espacial
O ano seguinte seria um marco em grandes eventos e festivais (dadas as proporções do público existente), além de bons lançamentos e novos nomes surgindo no cenário.
Cartaz do Hollywood Rock
Logo em janeiro, o empresário Nelson Motta surge com o projeto Hollywood Rock, realizado no campo do Botafogo, no Rio de Janeiro. Foram quatro fins de semana de som, cada um deles com atrações diferentes. O primeiro, em 11 de janeiro, teve como atração principal Rita Lee & Tutti Frutti. No dia 18 (coincidindo com o segundo dia do Festival de Águas Claras em Iacanga), estavam previstas apresentações do Veludo e dos Mutantes. O público era de aproximadamente 18.000 pessoas. Após a apresentação do Veludo, os Mutantes sobem ao palco e logo são recepcionados por uma tempestade de verão, que destruiu o palco e acabou com a apresentação. Isso prejudicou muito a banda, que teve equipamentos danificados e os tirou da apresentação no Festival de Águas Claras (eles iriam direto do Rio para Iacanga, após o show).
No dia 25, as atrações eram O Peso, Vímana e O Terço (que tinha tocado em Iacanga no fim de semana anterior). O Vímana foi prejudicado por uma falha no som durante parte da apresentação e os dois outros shows levantaram a moçada. O derradeiro concerto da série recebeu dois artistas já históricos de nosso rock – Celly Campelo e Erasmo Carlos, além do emergente Raul Seixas.
Existe um “falso” registro em áudio de parte do festival, com as músicas de estúdio das bandas que se apresentaram acrescidas de barulhos de plateia, e um registro raro em vídeo (chamado Ritmo Alucinante), infelizmente com baixa qualidade de som e imagem, de alguns trechos dessas apresentações, que pelo menos vale pra se ter uma ideia d’O Peso e do Vímana no palco.
Houve tentativas da parte de Motta para levar o evento a outras capitais mas não deu certo. A ditadura encrespava muito com eventos ao ar livre e houve problemas com a marca de cigarros Hollywood, que patrocinava o evento.
Big Boy e Sábado Som
Na TV, na mídia impressa e no rádio o rock também crescia. A Rede Globo apresentava o programa Sábado Som, que estreou em março de 74 e foi até fevereiro de 75, deixando a moçada maluca com vídeo-tapes de grandes bandas da época e registros de seus concertos – Pink Floyd, Black Sabbath, Mahavisnhu Orchestra, Allman Brothers, Humble Pie, Johnny Winter, etc. O Veludo foi a única banda nacional a aparecer no programa.
No rádio, despontava com crescente sucesso entre a moçada a Rádio Eldorado, no FM, mais conhecida como Eldo Pop. O FM era novidade na época e a Eldo tocava material até então inédito no país, principalmente do rock progressivo e hard rock contemporâneo (não só inglês e norte-americano, mas de vários outros países, inclusive som das bandas locais), sem locuções e com pouquíssimos intervalos, numa longa viagem sonora. A rádio começou em fins de 72 e durou até 78, pouco tempo depois da morte do famoso disc-jóquei Big Boy, que era quem conseguia o fantástico material que a rádio veiculava e era seu principal programador. Deixou como legado uma imensa legião de órfãos que a cultuavam e que até hoje pesquisam nomes de algumas músicas que tocavam na programação, já que não eram anunciadas enquanto tocavam.
Em São Paulo, grande repercussão tinha o programa Kaleidoscópio, apresentado diariamente nas madrugadas por Jacques do Kaleidoscópio. Em uma rádio católica, Jacques botava pra quebrar com muito rock n’ roll e entrevistas, que o público podia assistir no próprio auditório da rádio.
Como revistas de grande circulação, havia a Hit-Pop (antes chamada de Geração Pop) e a Rock: A História e a Glória, que além de anunciarem as novidades lançadas no Brasil e no mundo encartavam pôsters de bandas que despontavam na época, e traziam algumas resenhas e entrevistas.
Festival de Águas Claras, o Woodstock brasileiro
No mesmo janeiro de 75 rolou o maior festival ao ar livre da época no Brasil, o Festival de Águas Claras, em Iacanga (interior de SP). Uma festa muito louca, com muita lama e curtição, que reuniu alguns dos maiores nomes do período e outros menos famosos no circuito nacional. Foram três dias, com instalações pouco adequadas para os presentes e equipamento rústico para os músicos, em termos de som e iluminação. Lá se apresentaram bandas já consolidadas no cenário como O Terço (a única que se apresentou no Hollywood Rock e em Águas Claras e foi o encerramento da programação), Moto Perpétuo, Apokalypsis, Soma, A Barca do Sol, Som Nosso de Cada Dia e Terreno Baldio. Tocaram também Rock da Mortalha, Orquestra Azul (que abriu o festival), Jazzco, Ursa Maior, Burmah, Mitra, Tony Osannah e mais alguns no lado mais rock, e no lado MPB houve Jorge Mautner, Walter Franco, Grupo Capote (de Odair Cabeça de Poeta) e Marcos Vinícius, entre outros.
Este festival atraiu boa cobertura da mídia impressa do Brasil, pela grande proporção que teve e também pelo desbunde total que foi. Existe um documentário sobre o festival (e suas outras três edições, em 81, 83 e 84) sendo preparado desde 2008, com previsão de ser lançado neste ano (vamos aguardar!).
O pesadíssimo Rock da Mortalha
Vale aqui uma pausa para falar das bandas que tocaram lá e que não tem (até hoje) nenhum registro em disco. O Rock da Mortalha é um grupo lendário da cena brasileira, porque, segundo relatos, seu som era extremamente pesado. Era um hard rock vigoroso, na linha de Black Sabbath. Os membros da banda, formada na periferia de São Bernardo do Campo, tocavam fantasiados e utilizavam algumas temáticas obscuras e fantásticas em suas letras. Existem relatos conflitantes e desencontrados a respeito do grupo, e até recentemente surgiram gravações de um ensaio do conjunto (com péssima qualidade sonora, infelizmente) em que realmente percebe-se como o som era pesado. Mas há pessoas que conheceram pessoalmente a banda e seus membros, e que relatam que o som dos caras não era nada daquilo, e que o material poderia até ser de uma outra banda.
Tiveram várias formações e estiveram ativos até o fim dos anos 70, já indo numa direção mais heavy metal. Controvérsias a parte, os músicos que faziam parte da banda na época de Iacanga (eram eles Orlando Luí no baixo, Baccas na guitarra e Julinho na bateria) já morreram (ou sumiram), e fica essa lacuna sobre a história do grupo. Também eram acompanhados eventualmente (o que não aconteceu no show de Iacanga) de um dançarino, chamado Lola, que era italiano e fazia performances teatrais durante os shows no período.
O Soma era carioca e a história da banda começa em 1969, com Bruce Henry, jovem norte-americano que veio morar no Brasil em 66. A banda começou com Jaime Shields (guitarra e vocal), Alírio Lima (bateria) e Ricardo Peixoto (guitarra). Nesta época, gravaram compactos que saíram na obscura coletânea Barbarella, de 71. Pela falta de repercussão do material, deram um tempo e só voltaram em 74, sem Ricardo Peixoto e com a inclusão de Ritchie Court, o mesmo flautista e vocalista inglês que tinha integrado o Scaladácida. O único registro que se tem da banda neste período é a música "P.F", que saiu no disco do espetáculo Banquete dos Mendigos, organizado por Jards Macalé em comemoração aos 25 anos da declaração dos direitos humanos. Gravaram também a trilha sonora de um filme sobre o famoso ladrão Ronald Briggs, mas nem o filme nem o disco chegaram a ser lançados e se perderam no tempo. A banda era bastante requisitada na época e foi gradativamente ficando mais jazzística, tendo encerrado as atividades no fim dos anos setenta.
O Burmah era um grupo brasileiro-argentino, com origem relacionada à banda El Reloj. Tocaram em duas das mais importantes ocasiões do rock naquele ano – Águas Claras e Banana Progressiva. Sua formação era Norton Lagoa (contrabaixo, o único brasileiro no grupo), Eduardo (guitarra) e Piojo (bateria).
O Jazzco (ou JA2Co) era uma espécie de “brass-rock” na linha de Chicago e Blood Sweat & Tears, com muitos naipes de metais e, assim como o Burmah, tocaram em Águas Claras e na Banana.
É valioso citar, já que estamos falando de bandas das quais não existem registros, do grupo Spectro, de São Paulo. A banda começou em 73, nos arredores de Campinas, capitaneada pelo tecladista e multi-instrumentista Amyr Cantúsio Jr, que conseguiu gravar vários bons trabalhos a partir dos anos 80, ativo ainda na atualidade na linha do progressivo eletrônico (sendo um dos pioneiros no Brasil neste território). Hoje circula por aí uma gravação bastante amadora de ensaios do grupo no período, que tem valor histórico, dando uma idéia de como era o atmosférico rock progressivo do grupo.
O grupo carioca Veludo
Uma outra banda celébre na época e que não deixou registro oficial em disco era o Veludo. Formado no Rio de Janeiro, o grupo era figurinha carimbada nos eventos da capital fluminense, e seus shows eram arrebatadores, segundo relatos de quem os viu. Surgiu inicialmente em 72 como Veludo Elétrico, contando com Lulu Santos na guitarra e vocal (com 19 anos na época), Fernando Gama no baixo, Paul de Castro na guitarra, Elias Mizhrai nos teclados, entre vários outros músicos que participaram de suas formações. Do Veludo Elétrico surgiu o Veludo, núcleo com Elias e Paul e o Vímana, com Lulu e Fernando.
O Veludo fazia um som progressivo numa linha mais ousada e um pouco mais experimental do que os Mutantes e o Terço, em composições longas, com improvisações e instrumental muito energético. O tipo de som que faziam foi considerado inviável e pouco comercial e não conseguiram um contrato para gravar, na época, a despeito de ter um grande público cativo e sempre serem aclamados em apresentações pelos teatros e festivais. A banda teve como formação clássica Elias Mizrahi nos teclados, Nélson Laranjeiras no baixo, Paul de Castro na guitarra e Gustavo Schroetter (ex-Bolha e futuro A Cor do Som). Paul era multi-instrumentista (tocava também baixo, violino e flauta) e em 76 passou a integrar os Mutantes, como baixista.
A banda alternou períodos ativos e inativos, recentemente lançou um trabalho de estúdio e atualmente tem feito alguns shows, inclusive no exterior, capitaneados por Elias Mizrahi. Em 1998, uma luz surge sobre a obra do Veludo. Um fã da banda prensou, por uma louvável iniciativa própria, 2.000 cópias em CD de uma parte da apresentação da banda no Festival Banana Progressiva, também de 75, com um qualidade de som razoável. Um grande presente aos ouvintes do bom rock progressivo da época e que mostra bem o calibre da banda no palco.
Duas ocasiões antagônicas marcaram a trajetória do Veludo. A primeira foi a imensa vaia que tomaram do público ao abrir o show de Bill Halley & His Comets no Rio de Janeiro. Também pudera – claro que não ia pegar um som cabeça e elaborado para abrir um show de música para dançar, de um artista já quase fossilizado e totalmente vinculado a um passado até então recente (anos 50), apesar de seu imenso valor histórico. A ideia dos promotores de escolher o Veludo é que foi infeliz (algo similar às infelizes “misturas” que os eventos do Rock in Rio eram pródigos em fazer).
E o famigerado Ezequiel Neves, grande crítico da estética progressiva, detonava sua metralhadora giratória: "O grupo do guitarrista Paul de Castro desaprendeu de forma chocante sua eficaz receita de rock-blues. Agora o Veludo entrou para o rol do som bolo de noiva, marca registrada do Terço, Mutantes, etc... Tudo de uma chatice sem limites. A competência instrumental a serviço da bobagem. O tecladista não pode ser pior e mais pomposo. Temas fantásticos totalmente jogados fora, sufocados por improvisações totalmente desprezíveis. O Veludo mereceu mesmo a vaia acontecida no Maracanãzinho antes da abertura do show de Bill Haley. O fato do Veludo, o Terço e os Mutantes estarem conscientemente batendo com a cabeça na parede me deixa com pena é da parede".
A banda, pouco antes do show de abertura, vê a debandada de Gustavo Schroetter, substituído por Aristides (que participou de importantes apresentações do grupo dali em diante), e teve uma canja de Patrick Moraz (então tecladista do Yes) no show. A outra ocasião foi gloriosa, e ocorreu no Festival Banana Progressiva. A banda aportou em São Paulo e deixou embasbacados todos os presentes. A expectativa quanto ao show era grande por parte da banda e, querendo chamar mais a atenção os músicos bancaram um anúncio no jornal Folha de São Paulo, anunciando sua apresentação no evento.
Cartaz de show no Teatro Teresa Rachel, no Rio
O outro braço do Veludo Elétrico (Lulu Santos e Fernando Gama) juntou-se aos remanescentes do Módulo Mil (Candinho, baterista, e Luiz Paulo Simas, tecladista) e fundaram a banda Vímana em 74. O som tinha muito de progressivo, mas tinha também um tempero brasileiro com bastante swing. Em 75, Candinho se manda da banda por motivos religiosos (ingressando em uma seita oriental) e a banda acolhe o flautista e vocalista Ritchie Court e o baterista João Luís Woenderbarg, mais conhecido como Lobão.
Em 75 participam como banda de apoio em gravações da cantora Luiza Maria e do cantor Fagner. No período passaram a se relacionar com o tecladista Patrick Moraz, apaixonado por nosso país tropical e que já andava por aí fazendo som com várias bandas locais (O Som Nosso de Cada Dia em Sampa e o Veludo no Rio). Patrick queria que o Vímana fosse sua banda de apoio no projeto do que viria a ser seu disco solo Story of I. Houveram vários desentendimentos entre Patrick e a banda. Ao mesmo tempo em que a moçada ficou deslumbrada pela possibilidade de uma carreira internacional e de tocar ao lado de um músico que já era referência em rock progressivo, ficaram tolhidos pelo gênio difícil do tecladista suíço e por seus desmandos. Patrick viu que a coisa não ia dar pé, a banda estava totalmente insatisfeita com a parceria e cada um foi para o seu lado.
Só em 77 é que a banda entraria no estúdio para gravar. Gravaram pela Som Livre (já uma grande gravadora na época), com a produção de Guto Graça Melo, um disco que ainda não viu a luz do dia (quem sabe um dia!), sobre a alegação de que não havia público no Brasil para aquele tipo de som. Só existe disponível até o momento um compacto com as músicas “Zebra” e “Masquerade”, e mais algumas gravações de shows da banda, com pouca qualidade sonora. Contribui para o fato de a gravação permanecer engavetada o interesse quase nulo dos ex-integrantes pelo antigo material, já que quase todos eles seguiram a trilha da música pop nos anos seguintes (Lulu Santos, Lobão e Ritchie), com bastante sucesso.
A Bolha no palco
A Banana Progressiva foi outra maravilhosa reunião da nata rock brasileira e da MPB relacionada ao rock. Projetada para ser um evento multicultural (com música, exposições de artes plásticas, fotografia e cinema) e para acontecer como uma temporada, aconteceu de fato no Teatro da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, em março, organizado pela Trinka Produções, produtora que já organizava diversos agitos na capital paulista.
Foram quatro noites de evento, começando numa quinta-feira. Na abertura do festival se apresentaram Veludo, Quarto Crescente (há outra banda com este nome nos anos 80, da qual fez parte o vocalista Percy Weiss, sem relação com esta), Bandolim e Som Nosso de Cada Dia. O segundo dia do evento foi a vez do grupo Montanhas, Edson Machado & A Rapaziada, Vímana e Burmah. Na noite seguinte, subiram ao palco Biscoito Celeste, A Bolha, Manito (já saído do Som Nosso de Cada Dia, se apresentando como artista solo) e Erasmo Carlo e Cia Paulistana de Rock, um supergrupo que o Tremendão montou na época para acompanhá-lo. E por fim, o domingo teve uma seleção maravilhosa de shows com Hermeto Pascoal, Barca do Sol, Jazzco e o Terreno Baldio.
A Banana Progressiva foi noticiada na época e musicalmente malhada pela crítica jornalística, que acusava os grupos de não terem originalidade e usarem fórmulas mal copiadas de grandes grupos ingleses. O festival foi bem sucedido em termos de público, porém a ideia de seguir como uma temporada de eventos menores não se firmou da maneira como a Trinka gostaria, rolando outras temporadas no Opus 2004 e no Teatro Bandeirantes, todos em São Paulo.
Alguns álbuns clássicos lançados em 1975
Em termos de discos lançados, o grande destaque fica com a guinada progressiva do grupo paulista Casa das Máquinas. Com a entrada do tecladista Mário Testoni, a banda envereda fortemente para um som mais elaborado e lança o maravilhoso disco Lar de Maravilhas, um dos trabalhos mais representativos do rock progressivo do Brasil na época. Como já dito anteriormente, a banda já era bem profissionalizada, vinda do bem sucedido núcleo d’Os Incríveis no fim dos anos 60, com bons equipamentos e uma certa experiência na lida fonográfica. O disco se saiu muito bem em vendas por conta da faixa de abertura, “Vou Morar no Ar”, uma canção um pouco mais acessível comercialmente falando, que acabou entrando até como trilha sonora de novela da Rede Globo. O tecladista Mário Testoni também foi responsável posteriormente pela guinada ao progressivo da banda Pholhas.
Outro marco no rock brasileiro foi o primeiro (e único) disco da banda O Peso. Formada a partir da dupla Luís Carlos Porto e Antônio Fernando, vindos de Fortaleza para o Rio concorrendo com a música “O Pente” no FIC de 72, a banda registrou em 75 o disco Em Busca do Tempo Perdido, com um rock básico, rasgado e pesado, com influências de blues-rock. A formação que gravou o disco e fez vários shows no período era Luís Carlos Porto (vocal), Carlinhos Scart (baixo), Gabriel O’Meara (guitarra), Constant Papineu (teclado) e Carlos Graça (bateria). O grupo, desiludido pela falta de sucesso e queimado com os empresários pela arruaça que provocava por onde passava, encerrou as atividades após dois anos na estrada.
Os músicos do Peso se integrariam novamente nos idos de 76-77 com a banda Flamboyant, que contava com Gabriel, Papineu e Carlinhos, além de Zé da Gaita (que tinha participado do disco do Peso, tocando na faixa “Blues”) e o famoso Celso Blues Boy na guitarra. Chegaram a acompanhar Raul Seixas em alguns shows, mas não gravaram nada.
Rita Lee & Tutti-Frutti foram a sensação daquele ano, com dois lançamentos de bastante sucesso – Entradas e Bandeiras e Fruto Proibido, ambos com hits que até hoje fazem parte do repertório dos shows de Rita Lee.
O Terço atingia grande magnitude com as vendas do disco Criaturas da Noite e se lançava na tentativa de alcançar mercados internacionais. Gravaram uma versão em inglês deste disco, que foi lançada na Itália com algumas mudanças na mixagem da parte instrumental que não ficaram boas. Acabaram não tendo o resultado obtido, porém conseguiram algumas incursões em países vizinhos. Aqui, seus shows eram muito concorridos e a banda era um dos maiores nomes do rock neste período.
Não só no circuito Rio-São Paulo as coisas estavam acontecendo. Em Porto Alegre, a agitação começou a partir da Rádio Continental, com o apresentador Júlio Furst, que apresentava um programa patrocinado pela marca de calças jeans Lee. Esse cara, após ser convidado para atuar como jurado no festival universitário MusiPUC, resolve apostar nas bandas locais. Júlio propõe à rádio oferecer espaço para gravações semi-profissionais (em dois canais) para as bandas que participaram do MusiPUC e outras que surgissem, para rolar em seu programa. Porto Alegre praticamente não possuía estúdios profissionais na época. A direção da rádio em princípio hesitou e colocou o risco do fracasso do projeto nas costas de Júlio. Mas o cara seguiu com a ideia e a coisa deu certo, auxiliando as bandas na divulgação do som e levando aquela música a uma amplitude maior dentro da região Sul.
As bandas gravaram lá e as músicas rolavam no programa de Júlio, que tinha grande audiência. E a partir disso começaram a surgir os eventos da rádio, com as bandas que tocavam no programa se apresentando nos palcos, principalmente da capital gaúcha. Vieram a tona nestes eventos bandas que ainda hoje permanecem obscuras, por não possuírem registros oficiais (fora os gravados na rádio), como o Byzarro (grupo de hard progressivo), Inconsciente Coletivo (folk-MPB), Mantra (jazz rock), Élbia (rock n’ roll), Utopia (folk progressivo), entre outros.
Outro grupo importante da cena gaúcha na época era o Saudade Instantânea, que, segundos relatos, tinha uma linha de som parecida com a dos Mutantes (fase progressiva). A banda, formada em 72, era capitaneada pelo guitarrista Cláudio Vera Cruz, que viria a integrar o grupo mais famoso vindo da região sul na época, o Bixo da Seda (sobre o qual falaremos em seguida). A banda participou de vários eventos e esteve envolvida com teatro, criando trilhas sonoras para alguns espetáculos. Um de seus maiores feitos foi abrir o show dos Secos & Molhados em Porto Alegre, em 73.
Alceu Valença e sua turma
Na região nordeste (principalmente em Recife), acontecia um certo levante psicodélico-regional, que começou por volta de 72 com gente do calibre de Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Lula Côrtes, Marconi Notaro, Zé Ramalho, Fagner, Ednardo, Ave Sangria, Quinteto Violado, Flaviola, entre outros.
Em 75 é lançado um marco fonográfico dessa geração, que adquiriu o status de cult em nível mundial – o disco Paêbirú, de Lula Côrtes e Zé Ramalho. Um trabalho que levou à estratosfera a mistura de música regional nordestina com o espírito psicodélico de experimentação e muita loucura. Gravado em fins de 74, o disco possui certa controvérsia em sua aura, por ter se tornado uma raridade muito rapidamente. A versão mais difundida para isso é a de que uma enchente abateu o depósito da gravadora Solar, onde estavam os discos recém-prensados, e grande parte do material se perdeu nessa ocasião. Outra versão diz que a gravadora decidiu parar de prensá-lo devido ao alto custo (um encarte bastante caprichado acompanhava a edição original) e as baixas vendas. O que resta hoje é um legado maravilhoso desta obra, considerada recentemente como um dos discos mais valiosos (pelo valor musical e pela raridade) gravados no Brasil.
Aconteceram ainda vários eventos ao ar livre no Parque do Ibirapuera e no Parque da Aclimação, em São Paulo, e no MAM do Rio, além da sonzeira que rolava na Tenda do Calvário em São Paulo. Em Curitiba, aconteceu o I Festival Rock de Verão, que contou com as bandas Rita Lee & Tutti Frutti, Som Nosso de Cada Dia, O Terço, Bixo da Seda, Almôndegas, entre outros.
E por fim, o ano se encerra com as apoteóticas apresentações do mago dos teclados, Rick Wakeman. Foram cinco apresentações no país – duas em São Paulo no estádio do Canindé (dias 13 e 14), uma em Porto Alegre no Gigantinho (dia 18) e duas no Rio de Janeiro no Maracanã (dias 20 e 21).