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21.6.10

QUERO LER A OPINIÃO DA GALERA!!

Os 10 Discos Essenciais do Heavy Metal Brasileiro

Por Alessandro Cubas
Colecionador
Desde seus primórdios o rock pesado brasileiro sofreu muito preconceito, sendo muitas vezes deixado de lado pela grande mídia e discriminado pela sociedade de uma forma geral como música para vagabundos ou drogados. Por via disso, tanto os músicos e como os fãs tiveram que se unir para organizar e promover seus próprios shows, editar zines, enfim, formar uma espécie de cena onde poderiam se expressar e trocar informações com pessoas com a mesma linha de pensamento. Após a realização da primeira edição do Rock in Rio no ano de 1985 o heavy metal ganhou de fato mais força em nosso país, com novas bandas, uma mídia cada vez mais especializada e selos dedicados à música pesada.
Hoje, com a mídia especializada, a internet e outros meios de comunicação, tudo está muito mais fácil para os fãs, que atualmente tem acesso a informações de grupos que em outros tempos não teriam a mesma oportunidade. Mas sem essa união que houve no início esta forte cena brasileira talvez hoje nem existisse.
Além do país ter inúmeras bandas excelentes, que vão desde Os Mutantes, Made in Brazil e outras ainda dos anos setenta, hoje ainda temos grupos excepcionais em todas as vertentes do heavy metal e também espalhadas por todo o território nacional, onde podemos citar os thrashers do Claustrofobia e do Violator como dois ótimos exemplos da nova geração.
Também tivemos projetos memoráveis, como a metal opera William Shakespeare’s Hamlet, lançada pela Die Hard e que surpreendeu ao narrar a obra do autor ao som das mais diversas bandas, como Tuatha de Danann, Crusader, Torture Squad, Nervochaos, Imago Mortis, entre outras.
O público brasileiro é outro show à parte e deve ser comentado, pois a maioria das grandes bandas do metal mundial curtem muito tocar por aqui, algumas ainda gravando álbuns ao vivo em nossos shows, como por exemplo os excelentes trabalhos do Iron Maiden e Scream For Me Brazil, disco solo de Bruce Dickinson, só para citar alguns exemplos.
A lista a seguir não é para ser encarada como definitiva, pois são muitos os nomes que gravaram ótimos discos, mas sim um pequeno exemplo de alguns álbuns que considero bons e importantes para o heavy metal brasileiro e que marcaram esta cena de alguma forma. E cá entre nós, não foi nada fácil escolher apenas dez álbuns.
Stress - Stress (1982)
Não tinha outra maneira de começar esta matéria citando outro álbum, simplesmente porque este disco da banda de Belém do Pará foi o primeiro LP de heavy metal gravado por uma banda brasileira.
As gravações ocorreram no Rio de Janeiro em apenas dois dias e de forma muito precária, em um estúdio de oito canais, a princípio desapontando até a própria banda, isso sem falar no problema com a censura, mas após pensarem melhor acabaram fazendo apenas mil cópias deste álbum, que se tornou um dos discos mais importantes para o heavy metal brazuca e que só foi relançado muito mais tarde, em 2002.
O som é um metal puro, sem firulas e com letras em português, onde podemos destacar faixas como “Sodoma e Gomorra”, “A Chacina”, “2031”, “O Oráculo de Judas”, “Stressencefalodrama”, “O Viciado”, “Mate o Réu” ... opa, já foram todas!
Vale destacar também que o show de lançamento deste disco teve em Belém um público de mais de 20 mil pessoas, o que para a época, e às vezes até hoje, foi surpreendente. Como diria o próprio Rossevelt Bala: um álbum desgracento!
Sepultura - Arise (1991)
Sem sombra de dúvidas o Sepultura é o maior nome do metal nacional de todos os tempos, e este álbum mudou não só a carreira da banda, mas também os rumos do heavy metal feito em nosso país.
Após trabalhos como o split Bestial Devastation ao lado do Overdose em 1985 e do álbum Morbid Visions em 1986, o guitarrista Andreas Kisser junta-se a Max Cavalera (V/G), Paulo Jr. (B) e Igor Cavalera (D), originando assim a formação clássica do Sepultura. Com este line-up o grupo ainda lançou Schizophrenia em 1987 e Beneath the Remains em 1989, este já pela Roadrunner Records. Mas foi neste Arise que a banda deu seu maior passo, tornando-se uma verdadeira entidade do thrash metal.
Contando com um tracklist devastador, este clássico presenteia nossos ouvidos com músicas como a faixa-título, “Dead Embryonic Cells”, “Desperate Cry”, “Under Siege (Regnum Israe)”, “Altered State” e, é claro, “Orgasmatron” do Motörhead, que saiu como bônus para o Brasil, ficando imortalizada na versão do Sepultura.
Após Arise esta formação ainda lançou os álbuns Chaos A.D. (1993) e Roots (1996), quando Max deixou a banda, sendo substituído por Derrick Green. Sem desmerecer a atual formação, acho que todo fã sonha um dia ver este line-up clássico novamente trabalhando junto.
O melhor trabalho do Sepultura e um verdadeiro clássico do thrash metal.
Sarcófago - INRI (1987)
Nem só de Sepultura vivia a cena metálica de Belo Horizonte. De lá também vieram outros nomes, como The Mist, Sexthrash, Chakal, Holocausto e o grande e polêmico Sarcófago.
INRI foi o primeiro disco oficial deste ícone do metal nacional, que já havia participado da coletânea Warfare Noise da Cogumelo Records, e nos traz hinos de selvageria, um black metal cru e que influenciou grandes bandas ao redor do mundo, inclusive sendo uma das maiores influências da cena black metal da Noruega do final dos anos oitenta e começo dos noventa, e tendo seguidores de peso como Behemoth, Darkthrone, Impaled Nazarene, Satyricon, entre outros fãs confessos do grupo.
O Sarcófago também leva o título, ao lado dos americanos do Morbid Angel, de ser uma das primeiras bandas a usar as insanas batidas batizadas de blast beats.
Os destaques são “Satanic Lust”, “Desecration of Virgin”, “Nightmare”, “I.N.R.I.”, “Satanas”, entre outras blafêmias. A Cogumelo também lançou uma versão do álbum em CD, com algumas faixas bônus ao vivo. Grupos como o Sarcófago, Vulcano, Murder Rape, Amen Corner e Doomsday Ceremony mostraram que o black metal poderia sim ser muito bem feito em uma país tropical e ensolarado como o Brasil.
Definindo o álbum em uma só palavra, esta obra gravada por Antichrist (V), Butcher (G), Incubus (B) e D.D. Crazy (D) é INDISPENSÁVEL!
Dorsal Atlântica - Antes do Fim (1986)
Mais um pioneiro do metal nacional, o Dorsal Atlântica lançou este que é o seu principal trabalho em 1986, um ano após o lançamento do split Ultimatum ao lado do Metalmorphose.
Antes do Fim nos traz um heavy metal muito pesado e poderoso, ainda cantado em português, pois futuramente a banda passaria a compor letras também em inglês. São de cortesia destes cariocas músicas como a clássica “Caçador da Noite” - que abre o álbum, “HTLV3”, “Guerrilha”, “Álcool”, “Depressão Suicida” e “Morte aos Falsos”. Fantástico!
Vale citar que o disco ganhou em 2005 uma nova versão totalmente regravada, batizada de Antes do Fim, Depois do Fim.
Além deste trabalho do próprio Dorsal, podemos destacar mais alguns excelentes álbuns que outras bandas do Rio de Janeiro nos proporcionam, como Sob o Signo de Taurus do Taurus, Vinçança do Azul Limão e o recente, mais não menos importante, Execution do Tribuzy, que contou com várias participações de peso.
Krisiun - Conquerors of Armageddon (2000)
O Brasil sempre foi uma mina de bandas de death metal, desde o princípio do estilo em nossas terras, com grupos como os mineiros do Mutilator e os paranaenses do Infernal, como nos dias de hoje, com nomes como o Drowned e o Torture Squad. Porém, ninguém pode negar que o Krisiun é, na atualidade, um melhores representantes do metal morte, não só em termos de Brasil mas sim mundiais, ficando lado a lado a nomes como Deicide e Cannibal Corpse.
Conquerors of Armageddon foi lançado em 2000 e é o quarto registro deste power trio formado pelos técnicos Alex Camargo (V/B), Moyses Kolesne (G) e Max Kolesne (D).
Para mim este é o melhor trabalho dos gaúchos, que começam detonando tudo com a faixa “Ravager”, continuam com verdadeiras pedradas como “Messiah’s Abomination”, “Soul Devorer”, “Cursed Scrolls” e a melhor de todas, “Coquerors of Armageddon”, todas tocadas com uma velocidade incrível. Outro fator que impressiona na banda é que, além de reproduzir estas faixas ao vivo, eles conseguem tocá-las ainda mais rápido.
Viper - Theatre of Fate (1989)
Talvez não possamos dizer que foi este o trabalho que revelou o vocalista Andre Matos, tendo em vista que a banda já havia lançado o álbum Soldiers of Sunrise em 1987, porém neste Theatre of Fate o Viper estava mais experiente, além de nos brindar com composições muito bem trabalhadas e com belas melodias, tornando-se uma referência no estilo.
Contando em sua formação com o já citado Andre Matos nos vocais, com os guitarristas Felipe Machado e Yves Passarell (hoje no Capital Inicial), com o baixista Pit Passarell e o baterista Guilherme Martin, Theatre of Fate foi lançado pela gravadora Eldorado e conta com músicas como “Illusions”, “At Least a Change”, “To Live Again”, “Theatre of Fate” e a clássica “Living for the Night”.
O Viper pode ser visto hoje como o nome que abriu as portas do metal melódico brasileiro, atingindo o mercado europeu e asiático. Acredito que sem esta banda outras como Angra, Shaman, Hangar e tantas outras não existiriam.
Infelizmente, após a saída de Andre Matos o grupo foi mudando seu estilo, onde podemos destacar apenas o bom Evolution de 1992 e All My Life, que foi a volta as raízes do metal melódico, lançado em 2007.
Korzus - Mass Illusion (1991)
1991 foi um bom ano para o thrash metal nacional, pois além do aclamadíssimo Arise ainda tivemos ótimos álbuns como Disturbing the Noise do Attomica e este Mass Ilusion dos paulistas do Korzus.
Mass Ilusion é o terceiro trabalho da banda, que anteriormente tinha lançado os discos Korzus Ao Vivo em 1985 e Sonho Maníaco em 1987, e pode ser considerado como um dos principais registros destes thrashers, que na época eram Marcello Pompeu (V), Silvio Golfetti (G), Marcelo Nicastro (G), Dick Siebert (B) e Roberto Sileci (D).
Após uma breve introdução a banda continua com “Agony”, Victim of Progress”, “P.F.Y.L.”, “Beyond the Limits of Insanity”, “Umpredistable Disease”, a animal faixa-título, “Kids of the Streets”, “Blood for Blood”, “Living in Pain”, “Raise Your Head”, “Midnight Madness” e “The Illuminated”, todas igualmente poderosas, com bons riffs e solos gritantes. O CD ainda traz como bonus a faixa “Inútil”, cover do Ultraje a Rigor.
Também vale destacar aqui o álbum que a banda lançou em 2004, Ties of Blood, que é um trabalho super bem produzido e com músicas altamente contagiantes. O Korzus conseguiu se firmar como uma das principais bandas da cena brasileira, sempre atraindo um bando de bangers sedentos por metal aos seus shows.
Angra - Holy Land (1996)
O Angra hoje já é uma banda que dispensa maiores apresentações, mas isso tudo se deve aos trabalhos excelentes lançados pelo grupo, como é o caso de Angels Cry (1993) e deste Holy Land.
Holy Land é um disco repleto de referências à cultura brasileira, tanto musicalmente, já que traz muitas composições com ritmos de diversas partes do país mesclados ao heavy metal, como liricamente, pois a temática do álbum é voltada para o descobrimento da América.
A banda também contava com um dream team do metal nacionall, com os músicos Andre Matos (V), Kiko Loureiro (G), Rafael Bittencourt (G), Luis Mariutti (B) e Ricardo Confessori (D). Ricardo Confessori que inclusive voltou a fazer parte da banda recentemente. O tracklist contém grandes momentos, como “Nothing to Say”, “Carolina IV”, “Holy Land” e “Make Believe”.
Harppia - A Ferro e Fogo (1985)
Vinda da mesma geração das bandas do SP Metal, como Centúrias, Avenger, Virus, Korzus, Abutre, Salário Mínimo, Platina, Cérbero, Performance, Santuário, Golpe de Estado e outras, o Harppia se destacou na cena metálica dos anos oitenta fazendo um heavy metal tradicional com letras em português, e lançando bons discos como A Ferro e Foge e Sete (1987). Este trabalho foi lançado pela Baratos Afins, mesmo selo que colocou no mercado as legendárias coletâneas SP Metal.
A Ferro e Fogo é um discaço de heavy metal onde cada uma das faixas merece destaque. O disco abre com a instrumental “Harpago”, que antecede “Salém (A Cidade das Bruxas)”, que eu considero uma das melhores músicas de heavy metal cantadas em nosso idioma. Ainda temos uma boa sequência com “Naúfrago”, que tem guitarras bem sacadas, a rápida faixa-título, a instrumental pra lá de Iron Maiden “Incitatus” e “Asas Cortadas”, encerrando este trampo dos paulistas com chave-de-ouro.
Ratos de Porão - RDP ao Vivo (1992)
Eu sei, eu sei ... o que o Ratos de Porão está fazendo em uma lista de dez discos essenciais de heavy metal brasileiro? Bom, apesar de muitos rotularem o Ratos como punk ou hardcore (não que não tenha sentido), não podemos negar que o som da banda sofre muita influência de thrash metal, assim como de estilos como o grind e o crust, gerando assim uma sonoridade crossover cheia de peso e energia, deixando muito grupo que se diz metal no chinelo. Não há registro melhor do Ratos de Porão do que este ao vivo para constar nesta lista, pois o álbum é quase que uma coletânea, contendo os mais variados clássicos do quarteto, como “Crianças sem Futuro”, “Beber até Morrer”, “Crucificados pelo Sistema”, “Vida Animal”, “Plano Furado I”, “AIDS, Pop, Repressão”, “Velhus Decreptus”, “Crise Geral”, “Sentir Ódio e Nada Mais”, “Igreja Universal”, entre muitas outras pauladas. Se você curte o estilo da banda do João Gordo e companhia, não deixe de conferir este ao vivo dos caras.

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